quarta-feira, 19 de junho de 2013

88) Universo Consciente? (Artigo do físico brasileiro Marcelo Gleiser para a "Folha de São Paulo")

Marcelo Gleiser

Universo Consciente? - Marcelo Gleiser

Entre os vários mistérios da física contemporânea, poucos se comparam à existência de não localidade na física quântica. Não localidade significa que interações entre entidades separadas podem ocorrer instantaneamente. É como se o espaço e o tempo não existissem!

Quando uma bo
la vai ao gol ou uma gota de chuva cai, existe um efeito local por trás: o chute, a nuvem carregada. No mundo quântico, dos elétrons e fótons --as partículas de luz--, efeitos podem ocorrer sem causa local, algo de que tratei na coluna do dia 28 de abril.

Tudo começou em 1926, quando Schrödinger obteve sua equação de onda descrevendo as órbitas do elétron em torno do núcleo atômico.

Era claro que o elétron não podia ser visto como uma mera partícula; já se sabia da "dualidade partícula-onda", na qual objetos podem ser tanto localizados como partículas quanto espalhados como ondas.

Schrödinger supôs que a onda fosse o próprio elétron ou sua carga elétrica espalhada em torno do núcleo, feito um borrão. Logo ficou claro que essa onda não era de matéria mas de probabilidade: a equação dava a probabilidade de o elétron ser encontrado aqui ou ali. Pior, quando sua posição era medida, a onda entrava em colapso instantaneamente em um ponto -onde estava o elétron. A ação à distância retorna!

O efeito piora quando temos um par de elétrons girando em sentidos opostos. Separando-os e invertendo a direção de um, o outro inverte a sua também de modo que ambos mantenham seu giro oposto.

O incrível é que isso ocorre instantaneamente, a qualquer distância! Einstein ficou horrorizado com isso, chamando o efeito de fantasmagórico. Pudera, havia-o exorcizado uma vez na gravidade e queria fazê-lo na física quântica.

Mas ele e outros não conseguiram isso: efeitos "não locais" são parte do mundo quântico, confirmados experimentalmente. O significado disso está em aberto. "Yo no creo en las brujas, pero que las hay, las hay."


Imagine gêmeos, um em São Paulo e outro em Manaus. Entram num bar, um em cada cidade. Se o de São Paulo pede pinga, o de Manaus pede chope. Se o de São Paulo pede chope, o de Manaus pede pinga. Isso ao mesmo tempo, como se soubessem o que o outro pediu. Como é possível, dado que estão longe e não podem se comunicar?

Essa sincronicidade, se não com gêmeos, foi verificada entre pares de partículas em experimentos à distância que comprovam que a correlação é mais rápida do que a velocidade da luz.

Imagino que muitos leitores estejam pensando na premonição, na sincronicidade junguiana etc.

Lembro que o cérebro humano e os pares de fótons são "sistemas" bem diferentes. Mas cientistas sérios, como o vencedor do Nobel Eugene Wigner e seu colega de Princeton John Wheeler, se questionaram sobre o papel da mente na física.

Quando medimos algo usamos um detector. Não temos contato direto com um elétron. Sua existência é registrada quando interage com o detector e ouvimos um clique ou vemos um ponteiro mexer.

Na interpretação "ortodoxa" da física quântica, é essa interação que determina a existência da partícula: antes da medida, não podemos nem dizer que a partícula existe.

Wigner e Wheeler acham que, sem um observador, essa medida não faz sentido; foi o observador que montou o detector. A existência da partícula depende de interação com a consciência humana: mais dramaticamente, a consciência determina a realidade em que vivemos.

Wheeler imaginou um experimento no qual uma partícula passa por um anteparo com dois orifícios e vai de encontro a uma tela móvel. Atrás dela, há dois detectores alinhados com os orifícios. Se a tela é retirada, os detectores acusam por qual orifício a partícula passou.

Porém, no mundo quântico, partículas podem agir como ondas. Ondas passando por dois orifícios criam padrões de interferência, estrias claras e escuras.

Portanto, duas opções: com tela vemos interferência, sem tela vemos detecção de uma partícula.

Wheeler sugeriu que a tela fosse retirada após a partícula ter passado pelo anteparo. Por meio da sua escolha, o observador cria a propriedade física da partícula agindo retroativamente no tempo! O incrível é que a previsão de Wheeler foi confirmada. Observador e observado formam uma entidade única que existe fora do tempo.

Wheeler extrapolou: "Não somos observadores no Universo, somos participadores. Sem consciência, o mundo não existe! O Universo gera a consciência e a consciência dá significado ao Universo". Essa visão traz o dilema: será que o Universo só faz sentido porque existimos?


 Obs. minha: excelente artigo do conceituado físico brasileiro Marcelo Gleiser. Uma transmissão não local só pode ocorrer fora do nosso mundo espaço-temporal, uma vez que, nesse mundo, que é aquele em que vivemos, as transmissões obedecem à barreira da velocidade da luz, segundo a teoria da relatividade de Einstein. Logo, como a nossa consciência, que realiza o experimento, é quem vai determinar, instantaneamente (isto é, de modo não local), com que características objetos quânticos vão se apresentar (partículas ou ondas), devemos possuir uma forma de consciência não local, extra-cerebral, pertencente ao nosso verdadeiro "eu", o "eu integral subconsciente" (expressão de Bozzano), o "eu transcendente" (expressão de Aksakof), ou o "eu subliminar superior" (expressão de Myers), que sobrevive à morte do corpo. Gleiser, evidentemente, não foi até lá, mas o físico quântico Amit Goswami foi (ver o seu livro "O Universo Autoconsciente").


87) O panteísmo espiritualista do Dr. Geley

     Em primeiro lugar, falemos do panteísmo. Como todos sabem, é uma filosofia cuja base é a crença de que o Princípio Único, Essência Cósmica (ou Energia Cósmica), ou Substância Divina, que criou o universo, não está fora, mas dentro do mesmo, estando o universo imerso na Substância Divina. Tudo o que nele existe (matéria, energia, vida, etc.) seria fruto das transformações ou condensações progressivas dessa Substância Divina. Tudo sai dela para, evos (bilhões de anos) mais tarde, voltar a ela. Animais e homens conteriam, entretanto, no seu interior, uma centelha dessa Essência Cósmica, aqueles sob a forma de instinto, e estes sob a forma de consciência ou razão.
     O panteísmo materialista, do qual, na era moderna, os expoentes máximos são os filósofos alemães Arthur Schopenhauer (1788-1860), com sua obra "O Mundo Como Vontade e Representação", e seu continuador, Eduardo von Hartmann (1842-1906), com seu livro "A Filosofia do Inconsciente", o panteísmo materialista, dizia eu, crê que a fagulha divina que existe nos animais e no homem, uma vez golpeados pela morte, reintegra-se à Substância Divina que a gerou, perdendo, pois, a sua consciência e individualidade. Sua duração é efêmera, do nascimento ao falecimento. 
     O panteísmo espiritualista, ao contrário, postula a ascensão ininterrupta e progressiva da fagulha divina, desde o seu estado potencial, no mineral, subindo, ao longo dos evos, pelos reinos vegetal, animal e hominal, animando inumeráveis formas evolutivas, plasmando-as como meio de sua própria ascensão, aproximando-se cada vez mais da Essência Cósmica de onde proveio, até que, no ápice da evolução, reintegre-se a Ela, sem perder a sua individualidade.
      
     O Dr. Gustave Geley foi um médico francês, doutor em medicina pela universidade de Lyon, clínico-geral do hospital de Annecy, fundador e diretor do Instituto Metapsíquico Internacional; sua grande obra "De l'Inconscient au Conscient" ("Do Inconsciente ao Consciente") é um esboço de uma filosofia científica global que procura dar conta dos problemas inerentes à psicologia humana, nos seus aspectos normal, anormal (patológico) e paranormal (metapsíquico), e busca trazer uma explicação lógica dos inúmeros pontos de interrogação que permeiam a teoria transformista darwiniana da evolução das espécies. Como a obra citada não possui tradução para a língua portuguesa, tentarei fazer uma tradução livre da edição em espanhol que possuo. Citarei apenas alguns excertos que me parecem importantes para o tema em apreço.
      
     As dificuldades capitais do transformismo clássico são em número de cinco. Vejamos a enumeração: 
1ª) Os fatores clássicos são impotentes para dar a compreender a origem das espécies.
2ª) Os fatores clássicos são impotentes para dar a compreender a origem dos instintos. 
3ª) Os fatores clássicos são incapazes de explicar as transformações bruscas criadoras de novas espécies.
4ª) Os fatores clássicos são incapazes de explicar a "cristalização" imediata e definitiva dos caracteres das novas espécies ou dos novos instintos -- o fato de que esses caracteres, em suas grandes linhas, adquirem-se muito rapidamente, e, uma vez adquiridos, ficam praticamente imutáveis, ou mudam muito pouco ao longo do tempo.
5ª) Os fatores clássicos são impotentes para resolver a dificuldade geral de ordem filosófica relativa à evolução, que, do simples, faz surgir o complexo, do menos ( - ), o mais ( + ).
     Estudemos, sucessivamente, estas cinco dificuldades essenciais.
                                                             ( x ) 
     As duas bases, os dois postulados primordiais da filosofia que vamos expor e sustentar, são os seguintes:
I. O que há de essencial no indivíduo é um dínamo-psiquismo, emanação do Princípio Único (ou da Substância Divina), primitivamente inconsciente, mas tendo em si todas as potencialidades. As aparências diversas e inumeráveis das coisas são apenas objetivações do dínamo-psiquismo máximo, isto é, do Princípio Único.
II. O dínamo-psiquismo essencial e criador dos seres vivos passa, pela evolução, do inconsciente ao consciente.                                                                    
                                                              ( x )
     A evolução coletiva, como a evolução individual, pode resumir-se desta forma: passagem do inconsciente ao consciente.
     No indivíduo, o Ser aparente, submetido ao nascimento e à morte, limitado em suas capacidades, efêmero em sua duração, não é o Ser real; é apenas a objetivação ilusória, atenuada e fragmentária. O Ser real, aprendendo pouco a pouco a se conhecer a si mesmo e a conhecer o Universo, é a fagulha divina a caminho de realizar sua divindade, infinita em suas potencialidades.
     No Universo observável, as diferentes aparências das coisas são apenas a objetivação ilusória, atenuada e restrita, da unidade divina, realizando-se em uma evolução indefinida. A constituição dos mundos e dos seres é apenas, também, a realização progressiva da consciência eterna, do Princípio Único, pela multiplicação progressiva de criações temporais ou objetivações.
                                                                   ( x )      
     Que importa, então, a morte? Não destrói senão uma aparência, uma objetivação temporal. A individualidade verdadeira, indestrutível, conserva e assimila todas as aquisições da personalidade transitória; depois, banhada de novo pelas águas do "rio Lete", materializa uma nova personalidade e continua sua evolução indefinida. Sim, isto é o que nos ensina claramente a natureza, e a natureza não mente nunca!
Obs.: Texto extraído do livro "Del Inconsciente al Consciente", Ediciones Cima, Caracas, Venezuela, 1995.     
     
     Os textos que se seguirâo foram retirados de dois livros do Dr. Geley: "O Ser Subconsciente" (ed. FEB, 1974) e "Resumo da Doutrina Espírita" (ed. LAKE, 1975), fazendo algumas adaptações. Tais livros foram os primeiros escritos pelo Dr. Geley, enquanto "De l'Inconscient au Conscient" foi um dos últimos.
     
     A evolução, base da doutrina panteísta, o é também da palingenesia (reencarnação). Por outro lado, contrariamente à banal e tão propalada opinião, as esperanças de imortalidade individual não são logicamente conciliáveis senão com o panteísmo, porque, segundo o argumento de Schopenhauer, não se pode conceber como infinito senão o que não teve começo, e como imortal senão o que não foi criado. Finalmente, sentimo-nos tanto mais conduzidos ao panteísmo quanto a hipótese de uma divindade exterior ao Universo nos aparece, na doutrina palingenésica, tão inútil do ponto de vista idealista quanto do ponto de vista criador.
     Podemos, então, adotar o logicamente o panteísmo, mas, sob a condição de que fique claro que nos colocamos no campo das hipóteses e que os sistemas concebidos sobre essa base, guardando inteiramente um caráter racional e verídico, ainda não derivam da filosofia científica propriamente dita.
     Se partimos da noção de um Princípio Único, Essência Cósmica ou Substância Divina, origem e fim de tudo, para tentar uma explicação completa do Universo, imediatamente nos encontramos em presença de capital dificuldade: esse Princípio Único não é mais compreensível do que o Deus pessoal e criador da maioria das religiões, que cria e permanece fora do Universo, sendo, portanto, limitado e finito. Infelizmente, o infinito, o absoluto, não são acessíveis à nossa inteligência finita. Só podemos conceber o absoluto de uma forma limitada.
     Sob as inumeráveis aparências das coisas, não vemos mais que objetivações, ou seja, parcelas condensadas do Princípio Único. Depois de um processo criador, ou de involução, a centelha divina, emanação individualizada do Princípio Único, acha-se em estado potencial no mineral. A evolução poderá, assim, ser considerada como a transposição de energias potenciais em energias realizadas: a aquisição da consciência será seu propósito e seu fim.
     Terminada a evolução, a centelha divina situada no interior dos seres vivos, imortal, individual, desenvolveu suas potencialidades e adquiriu a consciência que a todos resume. Mas a noção de sua individualidade não se perdeu; a consciência individual, realizada durante a evolução faz, naturalmente, parte da consciência total. Apenas, chegada ao máximo, cada consciência individual funde-se na consciência total, fazendo parte da mesma.


                                                             ( x )
     Segundo a Doutrina Espírita, o estado de desencarnação constitui uma espécie de produto sintético dos elementos diversos das personalidades anteriores. A diversidade cede lugar à unidade.
     Já não há órgãos diversos e múltiplos, mas um só organismo homogêneo. Já não há sentidos especiais, mas um sentido único que os condensa todos. Já não existem, enfim, diversas faculdades, mas uma só faculdade que as engloba todas: a consciência, mais ou menos extensa e mais ou menos livre, conforme o grau de adiantamento do ser. Em resumo: o espírito desencarnado é provido de um organismo homogêneo, com um sentido único, e desfruta de extensão variável de consciência, de liberdade e de amor (amor tomado em sentido amplo e que, à falta de melhor termo, teria a significação de capacidade afetiva e emotiva).
     Por consequência, se compararmos as duas fases sucessivas da existência do ser, diremos: A desencarnação é um processo de síntese, síntese orgânica e síntese psíquica. A encarnação é um processo de análise.
     Esta é a subdivisão da consciência em faculdades diversas, e do sentido único em sentidos múltiplos, para facilitar o seu exercício e conduzir ao seu desenvolvimento.

Obs. minha - já dizia "o grande mestre da ciência da alma", Ernesto Bozzano, em sua monografia "Pensamento e Vontade" (ed. FEB, 1991), sobre o panteísmo: É preciso reconhecer que, do ponto de vista filosófico, o sistema panteístico-espiritualista afigura-se o mais convinhável para interpretar, de modo acessível, às nossas inteligências finitas, o grande mistério do Universo.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

86) Consciência exterior (cerebral ou material) e consciência interior (extracerebral ou espiritual)

     O célebre astrônomo Camille Flammarion, em sua obra bem antiga, "Deus na Natureza" (1867), já afirmava o seguinte:       
     "Sem dúvida, uma lesão cerebral produz a perda de faculdades físicas ou psicológicas correspondentes; mas, que prova isso, uma vez que o cérebro é, neste plano, o instrumento necessário, sine qua non, da manifestação do espírito encarnado? -- Se em vez de ser a causa, ele é apenas a condição? Se o melhor músico do mundo só dispusesse de um piano com falta de algumas teclas, ou de instrumento outro de construção defeituosa, seria lícito negar talento musical a esse músico só por lhe falhar o instrumento, sobretudo quando, ao seu lado, outros artistas, por disporem de instrumentos à altura de seus talentos, se fazem admirar por quem os ouve?"


     Modernamente, o físico quântico Amit Goswami, em seu livro "O Universo Autoconsciente" (1993), escreve:
     O materialista sustenta que os fenômenos mentais subjetivos (como o pensamento, por exemplo) são apenas epifenômenos da matéria, isto é, fruto do movimento de células cerebrais. Se queremos compreender o comportamento de objetos quânticos, contudo, parece que precisamos introduzir o conceito de uma consciência interior extracerebral -- nossa capacidade de escolher -- de acordo com a ideia da ligação sujeito-objeto.  Parece absurdo que um epifenômeno da matéria possa afetá-la: se a consciência é um epifenômeno, de que modo pode ela fazer com que objetos quânticos (como elétrons) obedeçam ao nosso comando? De fato, objetos quânticos se apresentam no nosso mundo espaço-temporal como ondas ou partículas, dependendo do modo como queiramos realizar os experimentos.


Obs. minha: em minha modesta opinião, o cérebro é uma espécie de computador extremamente complexo, através do qual se comunica a consciência interior, posta em consonância vibratória com o computador cerebral, através do qual se manifesta no mundo do espaço-tempo, em que é seu destino viver, sofrer as provas da vida terrestre e evoluir. Valho-me nesse ponto de um texto do inigualável mestre e filósofo italiano Ernesto Bozzano, fazendo contudo ligeiras adaptações. Escreve ele:
     Mediante as novas concepções relativas ao ser, muito melhor se explicariam as causas por que um induvíduo perde temporariamente a razão sob a influência de uma bebida alcoólica, ou deixa de raciocinar continuamente se o instrumento cerebral funciona incorretamente, como na demência. Torna-se então evidente que, se o computador cerebral apresenta avarias em suas partes internas, a consciência interior (que opera o computador) já não se achará em condições de receber corretas percepções exteriores, nem, muito menos, em condições de agir na periferia com pensamentos e atos apropriados, os quais continuarão a ser transmitidos, porém alterados e deformados em representações incongruentes pelo computador cerebral defeituoso. ("Animismo ou Espiritismo? Qual deles explica os fatos?", 4ª ed., FEB, 1987, trad. de Guillon Ribeiro, pág. 161).

terça-feira, 16 de abril de 2013

85) Dois assuntos: 1º - O "prisma-verdade" de Giuseppe Mazzini; 2º - Como os Espíritos desencarnados descrevem o meio em que vivem

1º - O lutador político e filósofo italiano Giuseppe Mazzini (1805-1872) dizia que a Verdade Absoluta é um prisma com um número muito grande de faces e que cada um de nós, vivendo num mundo relativo, apenas consegue enxergar uma de suas faces. Só o Ser Supremo e os Altos Espíritos que Lhe estão próximos, numa dimensão muitíssimo mais elevada que a nossa, conseguem lobrigar todas as faces do prisma-Verdade. Com outras palavras, posto que não muito diferente em substância, é o que afirma o filósofo positivista francês Auguste Comte (1798-1857) -- Tudo é relativo, eis o único princípio absoluto. Por outro lado, "o grande mestre da ciência da alma", o "primus inter pares" na análise e evisceração dos fenômenos mediúnicos, nome que dispensa apresentação para todos os espiritistas, Ernesto Bozzano (1862-1943) afiançava -- A Verdade, para refulgir, precisa do entrechoque das idéias.
     Um amigo e correspondente virtual solicitou-me que lhe enviasse uma definição que eu considerasse a ideal para o Espiritismo, dentro dos meus angustos conhecimentos. Lembrei-lhe que eu via apenas uma face do prisma-Verdade mazziniano, e que talvez outros, mais competentes do que eu, conseguissem perceber uma face maior do mesmo prisma. Mas não desejando desapontá-lo, remeti-lhe a seguinte resposta:

     Modificando um pouco a definição para o Espiritismo que me foi dada pelo escritor patrício Carlos Imbassahy, diria o seguinte:

     "O Espiritismo é uma doutrina científica e filosófica que não se baseia em confusos, contraditórios e anacrônicos textos "pseudo-sagrados" do velho testamento bíblico (firmados na vingança, na velha lei moisaica do "olho por olho, dente por dente", derrogada pelo Cristo), mas nos fatos cientificamente comprovados (por eminentes cientistas de diferentes países), e nos ensinamentos morais do próprio Jesus (assentados na lei do amor, no "ama ao próximo como a ti mesmo"), ensinamentos cristãos confirmados e ampliados nas obras de Allan Kardec, codificando o que os espíritos superiores lhe transmitiram."


- Nesse complexo tema, não há como deixarmos de nos socorrer do maior estudioso dos fenômenos psíquicos, que possuía a mais completa biblioteca sobre esses temas (biblioteca que hoje está aberta aos pesquisadores), que pesquisou a fundo todos os fenômenos da casuística paranormal, tendo escrito mais de 100 obras sobre essa casuística, o "grande mestre da ciência da alma", filósofo Ernesto Bozzano. Faz-se nacessário consultar "A Crise da Morte, nas Descrições dos Espíritos Que se Comunicam".
     Tentarei sintetizar alguns pontos dessa obra. Em primeiro lugar, o mundo espiritual é tão real para os Espíritos quanto o material é para nós. E por que? Porque ele é feito da mesma substância sutil de que é feito o corpo desses espíritos (isto é, o seu "perispírito", na nomenclatura kardequiana), assim como o nosso é feito dos mesmos átomos e moléculas que constituem o nosso corpo. Seria absurdo que o espírito, ao desencarnar, se visse num mundo, para ele, completamente estranho, qualitativa e quantitativamente diferente do nosso, o que o mergulharia num tremendo caos mental. Quanto tempo levaria para que ele pudesse adaptar-se a esse novo mundo, que não deveria ter nenhum ponto de contato, nenhuma ligação com este? Ora, sabemos que "natura non facit saltus". Assim, faz-se necessário, nos primeiros estágios da vida espiritual, que os desencarnados encontrem um mundo semelhante a esse, onde a maioria deles passou toda a sua vida terrena, e onde o choque, que já não é pequeno para os que se veem numa nova existência, de outro modo seria insuportável.
     Um segundo ponto é que as casas e contruções dessa nova existência são feitos por espíritos de ordem média, que para isso se habilitaram especificamente, sob a supervisão, naturalmente, de espíritos mais adiantados, assim como, no nosso mundo, as construções são feitas por operários qualificados, sob a supervisão de engenheiros, ou mestres de obra com mais experiência. Os desencarnados possuem o pensamento e a vontade como força criadora, e podem criar objetos para seu uso imediato, mas não podem alterar as contruções de ordem geral.
     No mencionado livro de Bozzano, editado pela Editora do Conhecimento, há o relato de 30 casos de diferentes Espíritos desencarnados há pouco tempo, citando a existência de casas, escolas, hospitais, mas em nenhum há menção de conduções, como automóveis, ônibus ou trens, o que seria mesmo de espantar já que os espíritos se movem com a força do pensamento, podendo se mover, pois, lenta ou quase instantaneamente, conforme sua vontade. Assim, realmente, não sei como explicar o fato de, no livro "Nosso Lar", o Espírito André Luiz fazer menção à existência de um meio de transporte (algo parecido a um ônibus elétrico), que locomove os espíritos de uma parte a outra. Por outro lado, não me sinto com capacidade para declará-lo uma inverdade. O certo é que, na citada obra do pensador italiano, os espíritos comunicantes são acordes em afirmar que o meio espiritual (pelo menos nos seus primeiros estágios) é como se fosse "o meio terrestre espiritualizado".
     Vamos ao último ponto. Kardec realizou a quase inacreditável façanha de codificar, em 12 ou 13 anos, uma doutrina da complexidade da Doutrina Espírita. Isto, por si só, já seria suficiente para se tê-lo como um  grande Mestre, ou mesmo um Gênio. Mas ele escrevia em meados do século 19, utilizando-se dos conceitos científicos da época. A meu ver, alguns dos seus escritos, por essa razão, devem ser revistos, sem nenhum demérito para ele. Um deles é o que diz respeito ao chamado "fluido cósmico universal".
     Retornando a Bozzano, crê aquele filósofo e cientista que, banhando todo o Universo, exista uma "Energia Cósmica", sutil, primitiva e fundamental, a mais sutil de todas, da qual deriva, por condensações progressivas (a falta de um termo melhor), todas as coisas criadas, todas as formas conhecidas de matéria e energia. Esta "Energia Cósmica" seria a Essência Básica de que se constitui tudo o que existe no Universo. Bozzano a identifica com o próprio Deus, que assim seria onipresente e onisciente. Nada pode existir fora dessa Energia, e, desta forma, Deus seria infinito e ilimitado em todas as direções que se imaginar, e nada pode existir fora Dele. Todavia, entre esse Deus-Energia Cósmica e a energia e matéria que conhecemos, há uma infinidade de estágios intermediários, bem menos sutis que a Energia citada. É num desses estágios que se acha a energia que constitui o "corpo espiritual" (ou perispírito) dos desencarnados e o material das construções do mundo espiritual.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

84) Animismo ou Espiritismo? Qual deles explica os fatos?

  
     Segundo alguns estudiosos, as duas obras mais importantes da ciência espírita são "Animismo e Espiritismo" (1890, trad. de C. S., ed. FEB), do sábio russo Alexandre Aksakof, e "Animismo ou Espiritismo?" (1937, trad. de Guillon Ribeiro, ed. FEB), do filósofo italiano Ernesto Bozzano. Aliás, esta última, Bozzano nunca teve ideia de escrever, como ele próprio informa no seu prefácio:

     "Devo, antes de tudo, informar o leitor acerca das origens e da natureza do presente livro, que não é uma obra nova no verdadeiro sentido do termo, e que jamais tive ideia de escrever. Eis como se passaram as coisas."
     "O Conselho Diretor do Congresso Espírita Internacional, que se reuniu na cidade de Glasgow (Escócia) na primeira semana de setembro do corrente ano (1937), me escreveu, convidando-me a dele participar pessoalmente, oferecendo-me o cargo honorífico de vice-presidente do mesmo Congresso, e pedindo que lhe eu enviasse um resumo da minha obra, em torno do tema: Animism or Spiritualisme? Which Explains the Facts? ("Animismo ou Espiritismo? Qual Deles Explica os Fatos?"). Formidável tarefa, pois que se tratava de resumir a maior parte da minha obra de 40 anos. Mas, de súbito, o tema se me apresentou teoricamente muito importante. Aceitei então, sem hesitar, o convite e, como escasso era o tempo e vasta a tarefa, pus-me a reunir todas as minhas publicações sobre o assunto: livros, monografias, opúsculos, artigos em revistas e jornais, lançando-me sem demora ao trabalho."
     ( - )
     "Como quer que seja, agora que concluí, muito me alegra que o Conselho Diretor do Congresso de Glasgow me haja levado a resumir-me a mim mesmo, porquanto da síntese de muitas publicações minhas, longas, breves, de ocasião, condensadas num livro de pequeno porte, surge, incontestável, a solução espirítica do mistério do Ser."
     
     Vejamos o que nos diz o psiquista italiano nas conclusões do seu livro:

     "O presente trabalho, embora seja apenas um resumo substancial de numerosas publicações minhas sobre o tema que me sugeriu o Conselho Diretor do Congresso Espírita de Glasgow, não deixa de revestir notabilíssimo valor teórico, porquanto da síntese de múltiplas publicações condensadas num livro de pequeno porte, faz ressaltar longa série de importantes conclusões secundárias, ou de categoria, tiradas das manifestações paranormais -- anímicas e espiríticas -- em todas as suas graduações. Conquanto de ordem particular, essas conclusões convergem, em imponente massa cumulativa, para uma conclusão solene, de ordem geral: a solução espirítica da formidável questão pesquisada pela nova ciência que se chama -- Metapsíquica." ( Hoje Parapsicologia -- obs. minha).
     "Não me parecendo oportuno repetir aqui todas as conclusões de ordem secundária a que cheguei, limitar-me-ei a recordar apenas três delas, de importância fundamental."
     "Em primeiro lugar, lembro haver demonstrado que as faculdades paranormais subconscientes não podem ser os germens de novos sentidos destinados a surgir e fixar-se de forma permanente na humanidade do futuro, e isso pelas múltiplas razões que aduzi baseado nos fatos, mas, principalmente, porque tudo concorre a provar que a posse de sentidos paranormais não se conciliaria com a natureza humana, de modo que as instituições civis, sociais, morais, longe de retirarem daí qualquer vantagem, seriam abaladas em seus fundamentos, anuladas, demolidas, dando em resultado que a evolução psíquica da espécie pararia, degenerando, por não mais funcionar a grande lei biológica da luta pela vida."
     "Uma vez conseguida essa demonstração, aplanado estava o caminho para o conhecimento da verdadeira natureza das faculdades paranormais em apreço, faculdades que são os sentidos espirituais da personalidade integral subconsciente, os quais existem, preformados, em estado latente, nos recessos da subconsciência, aguardando o momento de emergir e atuar no meio espiritual, depois da crise da morte, do mesmo modo que os sentidos terrenos existem, preformados, em estado latente, no embrião (no ventre materno), esperando o momento de emergir e atuar no meio terreno, depois da crise do nascimento."
     "Por outras palavras: se é indispensável que o embrião humano, destinado a viver e a atuar no meio terreno, tem de aí chegar provido de sentidos apropriados e preformados, prontos a exercitar-se depois da crise do nascimento, igualmente indispensável há de ser que o Espírito desencarnado tenha de chegar ao meio espiritual provido de sentidos apropriados e preformados, prontos a ser utilizados depois da crise da morte, porque não é possível que os sentidos espirituais sejam criados subitamente do nada no instante da morte. Segue-se que, se o Espírito sobrevive, tem que os possuir preformados, em estado latente, prontos a entrar em relação com o novo meio que o acolhe. Se assim não fosse, o Espírito não sobreviveria à morte do corpo. Donde se depreende que os fenômenos anímicos são os que facultam ao homem a prova mais solene e incontestável da sobrevivência."
     "E ouso esperar que os opositores que me lerem haverão de recordar-se, no futuro, de que toda vez que se aventurarem a combater a hipótese espirítica recorrendo aos poderes da subconsciência, ainda que amplificados a enormes latitudes, nada mais farão, realmente, do que demonstrar a existência e a sobrevivência da alma, com o se colocarem no ponto de vista do Animismo, antes que no do Espiritismo, o que, precisamente, vem a dar no mesmo. Com efeito, sob esse aspecto, não cabe aos fenômenos espiríticos senão aduzirem a prova complementar, embora de si importante, da mesma demonstração."
     "Em segundo lugar, lembro que ficou demonstrado já ser possível circunscrever-se, dentro de limites bem definidos, os poderes paranormais da subconsciência, poderes designados pelos nomes de clarividência no espaço e no tempo, telepatia, psicometria, telemnésia (esta última no sentido de leitura nas subconsciências de outros, sem limites de distância), demonstração cuja consequência é privar os opositores da hipótese espirítica da mais formidável arma de que dispunham para combatê-la, e de que se prevaleciam até ao absurdo."
     "Em terceiro lugar, lembro que também ficou demonstrado que, mesmo quando se admita -- a título de concepção teórica -- que as faculdades subconscientes possuem o atributo divino da onisciência, não se conseguiria neutralizar a possibilidade de obter-se um dia a prova científica da sobrevivência humana, possibilidade solidissimamente firmada no conjunto inteiro das manifestações paranormais -- anímicas e espiríticas -- e não apenas sobre as provas de identificação espirítica fundada nas informações pessoais fornecidas pelos desencarnados que se comunicam, conforme presumem constantemente os nossos opositores."
     "Evidente, portanto, se faz que a solução, no sentido aqui indicado, das três questões fundamentais em apreço, equivale à solução do problema do Ser em sentido espiritualista, donde se segue que o Animismo prova o Espiritismo, e de tal modo que, sem o Animismo, o Espiritismo careceria de base."
     "Ao mesmo tempo e como complemento das conclusões a que cheguei, discuti a fundo, nos capítulos 3 e 4, respectivamente, os casos das comunicações mediúnicas entre vivos e os fenômenos de bilocação, duas categorias de manifestações teoricamente importantíssimas por corroborarem as referidas conclusões, em sentido espiritualista."
     ( - )
     "Em realidade, o capítulo 5 é o mais importante do presente livro, porquanto nele se demonstra, baseada em fatos, a assertiva de que, ainda que se concedesse a onisciência divina à subconsciência humana, não se chegaria a anular a possibilidade de provar-se cientificamente a sobrevivência. Ora, assim sendo, lícito se torna afirmar que o material de fatos por mim reunido e comentado nesse capítulo, derroca todas as hipóteses e todas as objeções, legítimas ou sofísticas, de que dispõem os opositores, fazendo triunfar a causa da verdade por maneira teoricamente resolutiva. Digo teoricamente, porque, praticamente, haverá sempre os grupos dos irredutíveis, que descrevi nas conclusões do aludido capítulo, os quais, embora não consigam refutar o que ali se contém, se manterão do mesmo modo recalcitrantes ou céticos, devido à existência bastante conhecida de uma forma de idiossincrasia psíquica que torna impermeáveis as vias cerebrais a novas verdades (misoneísmo, ou aversão a ideias novas)."
    
( - )
     "Concluo, epilogando as resultantes obtidas e o faço em forma de resposta à questão que me submeteu o Conselho Diretor do Congresso Espírita Internacional de Glasgow: "Animismo ou Espiritismo? Qual deles explica os fatos?". Respondo: "
     "Nem um nem outro, pois que ambos são indispensáveis à explicação do conjunto dos fenômenos paranormais, cumprindo se observe, a propósito, que eles são efeitos de uma causa única: o espírito humano que, quando se manifesta, em momentos fugazes, durante a existência encarnada, determina os fenômenos anímicos e, quando se manifesta, na condição de desencarnado, no mundo dos vivos, determina os fenômenos espiríticos. Decorre daí um importante ensinamento: que os fenômenos metapsíquicos, considerados em conjunto, podem ser anímicos ou espiríticos, conforme as circunstâncias. É racional, com efeito, supor-se que o que um Espírito desencarnado pode realizar, também deve podê-lo -- embora menos bem -- um Espírito encarnado, sob a condição, porém, de que se ache em fase transitória de diminuição vital, fase que corresponde a um processo incipiente de desencarnação do Espírito (sono natural, sono sonambúlico, sono mediúnico, êxtase, delíquio, narcose, coma, etc.)."


      Abaixo estão as obras, publicadas em volume, de Ernesto Bozzano (1862 - 1943). Esta relação foi estabelecida, em 1941, pelo grande amigo de Bozzano, o médico, e também psiquista Gastoni de Boni (1908 - 1986), e foi colhida no livro "Povos Primitivos e Manifestações Paranormais (Editora do Conhecimento, 2011), de Bozzano, com apresentação de de Boni. De Boni sustenta que se toda a obra de Bozzano, aí incluídos os artigos por ele escritos em diversos jornais e revistas especializadas de várias partes do mundo, fossem fundidos num só volume, chegar-se-ia a algo em torno de 15.000 páginas.
     No final do livro "A Alma nos Animais", publicado pela editora Golden Books (uma tradução do 11º livro listado na relação abaixo, reformulado e aumentado por Bozzano em 1941), cheguei a contar 243 trabalhos do pensador italiano, entre aqueles que figuram abaixo, mais monografias e artigos publicados em diferentes jornais e revistas de Metapsíquica e Espiritismo científico. Eis a relação apresentada por de Boni:

  1) O Espiritismo Diante da Ciência - 1901
  2) Hipótese Espirítica e Teoria Científica - 1903
  3) Casos de Identificação Espirítica - 1909
  4) A Propósito da "Psicologia e Espiritismo", do prof. E. Morselli -1909
  5) Fenômenos Premonitórios - 1912
  6) Fenômenos de Assombramento - 1917
  7) Fenômenos de Telestesia - 1920
  8) Os Enigmas da Psicometria - 1921
  9) Fenômenos de Telecinésia em Relação com Eventos de Morte - 1922
10) Música Transcendental - 1922
11) As Manifestações Metapsíquicas e os Animais - 1923
12) Comunicações Mediúnicas Entre Vivos - 1924
13) Fenômenos de Obsessão e Possessão - 1926
14) Manifestações Paranormais Entre os Povos Selvagens - 1926
15) A Propósito da Introdução à Metapsíquica Humana - 1927
16) Pensamento e Vontade, Forças Plásticas e Organizadoras - 1927
17) Premonições, Precognições, Profecias - 1927
18) Primeiras Manifestações de "Voz Direta" na Itália - 1929
19) A Crise da Morte nas Descrições dos Desencarnados Que se Comunicam - 1930
20) Algumas Variedades Teoricamente Interessantes de Identificação Espirítica - 1930
21) Aparições de Mortos no Leito de Morte - 1930
22) Literatura de Além Túmulo - 1930
23) Visão Panorâmica ou Memória Sintética na Iminência da Morte - 1931
24) Gemas, Amuletos e Talismãs - 1931
25) Fenômenos de Transportes - 1931
26) Crianças Videntes e Visões de Mortos - 1931
27) Marcas e Impressões de Mãos de Fogo - 1931
28) William Stainton Moses e a Crítica Científica - 1931
29) A Propósito das Revelações Mediúnicas - 1931
30) A Propósito de Espíritos Materializados e de Revelações Transcendentais - 1931
31) Materializações de Espíritos em Proporções Minúsculas - 1932
32) Criptestesia e Sobrevivência - 1932
33) Telepatia e Psicometria em Relação à Mediunidade da Sra. Piper - 1933
34) Simbolismo e Fenômenos Metapsíquicos - 1933
35) Xenoglossia (Mediunidade Poliglota) - 1933
36) Breve História das Pancadas Mediúnicas - 1933
37) Em Defesa dos Fenômenos Mediúnicos de Efeitos Físicos - 1933
38) Fenômenos de Bilocação - 1934
39) Fenômenos de Transfiguração - 1934
40) Experiências Mediúnicas e Eventos de Morte Relativos aos Fenômenos de Assombramento - 1935
41) Manifestações Olfativas de Ordem Patológica, Telepática, Paranormal - 1936
42) Telepatia, Telemnésia e a Lei da "Relação Psíquica" - 1938
43) Personalidades Mediúnicas Que Sugerem Personalidades Subconscientes - 1940
44) Romancistas de Gênio e Heróis de Roma Considerados em Relação com a Pesquisa Psíquica - 1940
45) A Faculdade Paranormal - 1940
46) Pesquisas Sobre as Manifestações Paranormais - 1931 (Vol. 1)
47) Idem - 1931 (Vol. 2)
48) Idem - 1932 (Vol. 3)
49) Idem - 1933 (Vol. 4)
50) Idem - 1938 (Vol. 5)
51) Idem - 1940 (Vol. 6)
52) Animismo ou Espiritismo? - 1938 


sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

83) Fenômenos de "xenoglossia" -- provas irrefutáveis da sobrevivência espiritual

Ernesto Bozzano
     
     Nenhuma evidência concorre tanto para a demonstração da sobrevivência espiritual e da possibilidade da comunicação entre os dois mundos (o dos chamados vivos e o dos desencarnados) quanto os fenômenos de "xenoglossia". O filósofo e cientista Ernesto Bozzano escreveu o melhor e mais decisivo trabalho sobre o tema: "Xenoglossia" (ed. da Federação Espírita Brasileira, trad. de Guillon Ribeiro). Vejamos as primeiras palavras da sua introdução:

     "O termo xenoglossia foi proposto pelo professor Richet para definir a "mediunidade poliglota", isto é, o fenômeno pelo qual os médiuns falam ou escrevem em línguas que eles ignoram totalmente e, às vezes, ignoradas de todos os presentes."
     O grande mestre da ciência da alma, como era chamado, divide os fenômenos em 4 categorias: 1ª - Casos com o "automatismo falante"; 2ª - Casos com o "automatismo escrevente"; 3ª - Casos por meio da "voz direta"; 4ª - Casos por meio da "escrita direta". São, ao todo, 35 casos escrupulosamente comprovados e estudados um a um pelo método científico, sempre empregado pelo filósofo italiano: análise comparada e convergência das provas.
     Em alguns casos, surgem línguas, dialetos e "patuás" extintos há muitos anos, como, por exemplo -- as linguas "hierática", tártaro-pérsica, chinesa antiga (da época de Confúcio"), inglesa antiga do 17º século, etc., e que consumiram tempo e recursos a especialistas para serem traduzidas.
     Nas concusões do seu trabalho, e a fim de que não paire nenhuma dúvida, Bozzano reanalisa, uma por uma, todas as 7 hipóteses levantadas pelos céticos (que ele chama "animistas totalitários", segundo uma terminologia clássica proposta pelo sábio russo Alexandre Aksakof em sua grande obra "Animismo e Espiritismo") para infirmar a teoria espirítica e lhe atribuir uma causa puramente humana, e demonstra a inanidade sofística de cada uma delas.
     A 1ª é a hipótese da "criptomnésia" ou memória esquecida, a 2ª é a hipótese da "telemnésia" ou "clarividência telepática", a 3ª é a hipótese da "clarividência propriamente dita" sob a forma de "leitura a distância em livros fechados", a 4ª é a hipótese da "personalidade desdobrada" válida para os casos obtidos por meio da "voz direta", a 5ª é a hipótese da "memória ancestral", a 6ª é a hipótese metafísica da existência de um "reservatório cósmico das memórias indivduais", e, finalmente, a 7ª, a mais absurda de todas, é a hipótese ultrametafísica de que os médiuns se poriam em relação com o Absoluto, isto é, com Deus, proposta pelo filósofo Von Hartmann, e que foi refutada pelo Conselheiro de Estado russo A. Aksakof, em sua obra já citada.
     Nas suas conclusões, referindo-se a esta 7ª hipótese, assevera o pensador italiano: 
     "Em face dessa incomensurável audácia teórica (relação dos médiuns xenoglóssicos com o Absoluto), uma só coisa me competia: confessar-me teoricamente vencido... desde que se tratasse de uma hipótese racional. Tenho, com efeito, que me considerar vencido, porquanto sendo a onisciência, a onipresença e a onipotência os atributos do Ente Supremo, nada se poderia negar ao Absoluto e nada haveria impossível para quem conversa com o Absoluto."
     "Em realidade, Hartmann imaginou que os médiuns se pusessem em comunicação direta com a Consciência Cósmica, atributo do Ente Supremo, e dela extraíssem os pormenores ou os conhecimentos linguísticos de que necessitassem para enganar o próximo, sendo tudo feito, naturalmente, com a magnânima aquiescência do mesmo Ente Supremo. Ora, esta hipótese não se revela apenas absurda, mas blasfema. Com efeito, ela culmina num absurdo filosófico, porquanto sustenta que um minúsculo ser finito, de inteligência limitada, chamado homem, pode conversar familiarmente com o Ser Infinito, Impessoal e Eterno, criador do Universo, e que o pode fazer exclusivamente com o fim de mistificar o próximo !"
     "Apresso-me a acrescentar, em homenagem ao equilíbrio mental dos nossos opositores, que nenhum deles saiu a propugnar essa incomensurável heresia filosófica. Tais as hipóteses que têm sido formuladas para, de qualquer modo, explicarem-se os fenômenos de xenoglossia."
    
     Antes de prosseguir com os argumentos de Bozzano neste seu trabalho, abro uns parênteses para mencionar outro texto seu, extraído do livro "Matapsíquica Humana" (ed. da FEB, trad. de Araújo Franco):
     "Devemo-nos lembrar de que, se para compreender uma língua não é necessário que o médium a conheça, por lhe bastar perceber telepaticamente as vibrações do pensamento do consulente, o mesmo não se dá quando se trata de falar essa língua. Neste caso, indispensável se torna a conheça o médium, pois a telepatia e a clarividência são de todo impotentes para suprir os necessários conhecimentos, dado que a estrutura orgânica de uma língua é pura abstração, que não se pode ver nem perceber nos cérebros alheios."
     "Teríamos de admitir que o médium, graças ao seu próprio poder paranormal, pudesse, de um momento para outro, tornar-se conhecedor dos vocábulos correntes de uma língua, das variações de gênero, número, caso e tempo, assim como das principais regras da gramática, pelas quais lhe fosse possível agrupar, dispor, coordenar as frases, apoderar-se da fonética especial de cada palavra, das características da língua ou do dialeto, das inumeráveis locuções e idiotismos que constituem o fermento vivo de cada idioma. E será isto possível? Não posso crer haja quem, com o único fim de evitar uma outra explicação simples, natural, emergindo espontaneamente dos fatos (dado que o próprio fenômeno se apresenta como proveniente de um desencarnado), ouse defender tese tão extravagante."

     Fechados os parênteses, voltemos ao livro "Xenoglossia", em que o mestre italiano finaliza, entrando em mais uma polêmica com seu amigo e adversário, Prof. Charles Richet (Prêmio Nobel de Medicina), posto que, como sempre, de forma serena e elevada:

     "O professor Richet, cujas ideias sempre estudo com grande deferência e proveito, depois de haver sinceramente reconhecido que algumas categorias de manifestações matapsíquicas, inclusive a que faz objeto deste trabalho, não podem explicar-se por nenhuma hipótese naturalística, se refugia... nos pósteros, com esta observação":
    
     Ainda nem uma só hipótese temos, verdadeiramente séria, a tomar em consideração. Creio, em definitivo, numa hipótese desconhecida, que de futuro aparecerá ! Não posso formulá-la porque não a conheço.
(Tratado de Metapsíquica, pág. 790).

     "Com todo o respeito devido ao insigne homem de ciência, de cuja amizade muito me honro, digo parecer-me que essa observação se reduz, no fundo, a uma engenhosa "frase de efeito", carente de consistência real, visto que, presentemente, com as hipóteses acima apreciadas, já se há percorrido toda a gradação, legítima e ilegítima, possível e impossível, das presunções hipotéticas que a mais desenfreada fantasia pudera excogitar.  Pois não vieram à baila até a Consciência Cósmica e o Absoluto? Ir além não é possível, nem agora nem nunca. Entretanto, o fato é que, com toda essa audaciosíssima sequela de hipóteses, não se chegou à explicação naturalística dos fenômenos de xenoglossia, nem mesmo buscando-se refúgio no Absoluto. Não há quem não veja que esse resultado negativo fala com extraordinária eloquência a favor da única hipótese capaz de explicar o conjunto dos fatos."
     "Isto posto, observarei que a verdade, a tal respeito, consiste em que, no tocante à categoria dos fenômenos de xenoglossia, as possibilidades teóricas existentes para a solução do grande problema da gênese dos mesmos fenômenos, podem resumir-se no seguinte dilema: ou está provado que a subconsciência humana possui o dom da onisciência divina e, consequentemente, pode conversar ou escrever em todas as línguas, sem as conhecer; ou, ao contrário, está demonstrado que, quando o médium conversa ou escreve numa língua que lhe não seja conhecida, não é ele quem isso faz, mas a entidade do desencarnado que se declara presente."
     "É assim que a grande questão se põe e não há outra maneira de pô-la. Segue-se daí que, como podemos ter a certeza de que os pósteros não chegarão nunca a demonstrar que a subconsciência humana possui o dom da onisciência divina, lícito nos é antecipar aos vivos de hoje, sem temor de que os pósteros algum dia nos desmintam, a auspiciosa notícia de que a grande questão já se acha resolvida, favoravelmente à interpretação espiritualista dos fatos."
     "Por outras palavras: ressalta evidente que, como os pósteros não chegarão nunca a demonstrar o que, racionalmente, psicologicamente, filosoficamente, é impossível de demonstrar-se, então, se há de admitir que a primeira proposição do dilema formulado resulta absurda e insustentável, devendo, nesse caso reconhecer-se que a solução integral da grande questão se contém na segunda proposição do mesmo dilema, visto que não existe uma terceira proposição. Sobre este último ponto, estou absolutamente seguro do que afirmo, e desafio quem quer que seja a demonstrar que me acho em erro."
     "Razão, pois me assistia quando, na introdução do presente trabalho, afirmei que as manifestações de xenoglossia se contam entre as mais importantes da fenomenologia metapsíquica, por isso que eliminam de um só golpe todas as hipóteses de que dispõe quem queira tentar-lhe a explicação sem se afastar dos poderes paranormais inerentes à subconsciência humana. Da minha afirmação deriva, como consequência, que a interpretação dos fatos, no sentido espiritualista, se impõe agora de modo racionalmente inevitável. Quer isto dizer que, por obra dos fenômenos de xenoglossia, se tem que considerar provada a intervenção de entidades espirituais extrínsecas ao médium e aos presentes, nas experiências mediúnicas.
     "Assim é, mas, ao mesmo tempo, apresso-me a declarar que sou o primeiro a reconhecer, em consciência, que largo tempo ainda passará antes que essa grande Verdade, subversora da civilização de uma época e iniciadora de uma nova época na História do mundo, consiga evolver, amadurecer, aclimatar-se e impor-se à Humanidade, o que é um bem."
     "Quando Galileu anunciou ao mundo a extraordinária descoberta, subversora da ciência astronômica do seu tempo, segundo a qual a Terra era uma esfera que rodava em torno de si mesma e girava em torno do Sol, um século foi preciso de lutas, antes que a estupenda verdade se generalizasse e obtivesse universal acolhimento. Outrotanto sucederá, porém com lentidão notavelmente maior e lutas muito mais rudes, respeito a esta outra verdade, que se apresenta muitíssimo mais importante, cientificamente, filosoficamente, moralmente e socialmente, do que todas as verdades que, no passado, no presente e no futuro, se hajam imposto ou venham a impor-se à meditação dos homens."
     "Conclui-se daí que os poucos privilegiados que hoje conhecem o Verdadeiro e lograram assimilá-lo (pois que não conhecê-lo, sendo necessária uma mentalidade madura para o assimilar), esses poucos privilegiados de hoje podem considerar-se os eleitos do destino.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

82) O extraordinário caso Rosemary - Lady Nona: uma prova da sobrevivência espiritual

     Retiro as considerações abaixo do livro "A Psicografia Ante os Tribunais", 4ª ed., FEB, 1961, pág. 165:

     Mais notável, espantoso mesmo, é o caso da velha linguagem egípcia, que ressurge depois de 3.000 anos, na sua forma, na sua sonoridade, trazendo à luz vários problemas linguísticos, desvendando mistérios que pareciam impenetráveis, visto que jaziam soterrados pelo tempo, pelo pó, em companhia dos sarcófagos dos velhos faraós. Tudo surgiu a lume. O passado se fêz presente, instantaneamente, assombrosamente.
     Trabalhava com o Dr. Wood notável médium cujo pseudônimo era Rosemary. Por ela se manifestava um Espírito que dava o nome de Lady Nona, dizia ter vivido no Egito havia longos séculos. Fornecia, a princípio, recordações pessoais, uma exata descrição de instrumentos musicais da época, pormenores sobre a cidade de Mênfis, os faraós, as cerimônias religiosas, a Esfinge, e pitorescas descrições sobre a vida do povo egípcio da época. Tudo se comprovou após exaustivo trabalho de idas e vindas a museus e documentos históricos.
     Inopinadamente, Nona, o Espírito, que falava o inglês, entrou a discorrer na antiga linguagem egípcia, de todos desconhecida. A médium ouvia sons, falados numa língua ignorada. O Dr. Wood entrou a procurar um egiptólogo, e conseguiu travar conhecimento com o Sr. Howard Hulme, de Brighton, familiarizado com o idioma dos faraós. Nunca se conheceram antes. Centenas de frases foram ditadas pela individualidade espiritual, e o Dr. Hulme julgou que deveria se tratar de um idioma esquecido há muitos séculos, remontando ao antigo Egito, provavelmente à 18ª dinastia, 1576 anos antes da era cristã.
     O Dr. Wood apanhava os ditados conforme os sons e os remetia ao Dr. Hulme. Este, mais tarde, devolvia o trabalho traduzido em hieróglifos egípcios, acompanhados da tradução em inglês. O mais interessante - acrescenta Wood - é que as respostas correspondiam sempre, de maneira espantosa, às nossas perguntas à Entidade, feitas em inglês, e ao assunto de que tratávamos. Tal é, num rápido escorço, o que nos refere desenvolvidamente o Dr. Wood, no periódico "Two Worlds", em 14 de outubro de 1932. O Dr. Wood publicou um estudo do caso num livro intitulado - "The Rosemary Records", Manchester, 1932.
     A respeito, escreve o General Peter, numa revista científica alemã, "Zeitschrift für Seelenleben", pág. 57:
     Há três anos, Rosemary é "controlada" por Lady Nona, princesa que esposou, há 3.000 anos, o faraó Amenhotep III, o qual a fêz afogar no Nilo. Posteriormente, tomado de remorsos, o uxoricida arrependeu-se profundamente da sua atitude. História incrível, mas o Dr. Wood procurou provas. A descrição dos instrumentos de música do tempo de Amenhotep foi verificada, depois de inquérito e pesquisas. O retrato do monarca, feito pelo Espírito, coincidia com o do existente no British Museum. As indicações históricas eram perfeitas, conforme se descobriu. A faraona fala em seu idioma, e o Sr. Hulme, distinto especialista em dialetos do antigo e moderno Egito, pôde verificar e fiscalizar minuciosamente este portentoso caso de xenoglossia.
    
J. J. Prudhon, referindo-se a outro trabalho de Wood sobre o caso, explica:
     Trata-se da história de Lady Nona, concubina do faraó Amenhotep III. Nona procurou estabelecer sua identidade por mais de 300 provas linguísticas, em puro egípcio antigo, falado e foneticamente registrado pelo autor, e traduzido em inglês pelo egiptólogo Sr. Howard Hulme ("Revue Spirite", 1935, pág. 399).
     Foram a mais de 800 as mensagens egípcias. Delas trata amplamente e mais profundamente o Dr. Wood, no seu último livro -- "Ancient Egypt Speaks" -- e, em português, o Sr. F. V. Lorenz, em seu livro -- "A Voz do Antigo Egito" (ed. FEB).

Obs. minha: sobre este caso, pode-se consultar também o livro do erudito escritor brasileiro Hermínio C. Miranda -- "Arquivos Psíquicos do Egito" (ed. Lachâtre).