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Enrico Morselli |
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Ernesto Bozzano |
Este é o título de mais uma obra (dentre as mais de cem
que escreveu) do filósofo, cientista e pensador italiano Ernesto
Bozzano, cognominado "o grande mestre da ciência da alma", o "primus
inter pares" na análise e evisceração dos fenômenos parapsicológicos
(ou espiríticos), em réplica a um livro do professor, médico e
psiquiatra italiano Enrico Morselli, em 2 volumes, intitulado
"Psicologia e Espiritismo", de quem, apesar de tudo, Bozzano era grande
amigo, e com quem participou, no "Circulo Científico Minerva", em
Gênova, de vários experimentos com a médium napolitana Eusápia Paladino,
mas também com outros médiuns. Morselli era um materialista irredutível
e, apesar dos impressionantes fenômenos a que assistiu (inclusive e
várias vezes, de materialização), que narra, com minúcias de detalhes
nos 2 volumes de seu trabalho, permaneceu um cético inabalável, por toda
a vida, atribuindo todos os fenômenos a poderes ocultos, latentes no
cérebro dos médiuns. Mas, sem embargo, apesar do seu ceticismo quanto à
causa dos fenômenos, deixou, nessa obra, um eloquente e incisivo testemunho no que tange à veracidade dos fenômenos espiríticos. Eis como ele se refere aos mesmos:
"
A questão do Espiritismo foi discutida por mais de cinqüenta anos, e
embora ninguém possa prever neste momento quando isso vai ser
resolvido, todos são acordados em atribuir a ela uma grande importância
entre os problemas que deixou como legado pelo século XIX para o XX. Se
durante muitos anos a ciência acadêmica desvalorizou toda a categoria de
fatos que o Espiritismo trouxe para formar os elementos de seu sistema
doutrinário, tanto pior para a ciência. E pior ainda para os cientistas
que ficaram surdos e cegos diante de todos ante a afirmação, não de sectários
crédulos, mas de graves e dignos observadores como Crookes, Lodge e Richet.
Eu não me envergonho de dizer que eu próprio, na medida do meu modesto
poder, tinha contribuído para esse ceticismo obstinado, até ao dia em
que estava habilitado para quebrar as cadeias em que os meus
preconceitos absolutistas tinham ligado meu julgamento."
Nos 2 volumes do seu documentado trabalho, Morselli comprova a
realidade dos mais diversos fenômenos físicos do mediunismo, mas,
negando-lhes a causa espiritual, se deixa empolgar e chega mesmo, em
algumas passagens, a lançar mão de termos pesados e quase insultuosos
aos espiritistas. Bozzano, com a lógica, elegância e maestria de sempre,
põe por terra, um a um, os principais argumentos antiespiríticos de
Morselli. Limitar-me- ei aqui a citar as palavras iniciais e finais do
grande mestre italiano, em sua réplica ao prof. Morselli. (O livro de
Bozzano foi publicado em 1935 pela Federação Espírita Brasileira, com
tradução do Dr. Guillon Ribeiro). Vejamos então:
"Sobre a obra do prof. Morselli já a crítica, a esta
hora, se exercitou amplamente, realçando-lhe qualidades e defeitos. É
fora de dúvida que se trata de um trabalho vigoroso, que não interessa
pouco à causa das pesquisas psíquicas, contribuindo, sobretudo, pelo
interesse que desperta (quem o diria!) o declarado antiespiritismo de
que o autor se fêz porta-bandeira, para que aquelas pesquisas conquistem
numerosos prosélitos nas fileiras, até agora hostis, dos representantes
do saber."
"Assim sendo, hesitei longamente em tentar pelo menos a crítica
sumária dos múltiplos argumentos que o ilustre psiquiatra acumulou
contra a hipótese espirítica. Já a seu tempo havia eu refutado alguns
deles no capítulo das conclusões do meu recente livro -- Casos de Identificação Espirítica
-- e deliberara não tomar em consideração outros, tanto mais que esses
outros se me afiguravam, na sua maioria, tão evidentemente sofísticos,
que como tais seriam facilmente discerníveis por quem quer que fosse
mesmo mediocremente versado no assunto. Essa minha deliberação, porém,
veio a mudar de súbito, devido ao modo insistente pelo qual o prof.
Morselli vai proclamando pelas revistas a validez inconcussa da sua tese
e, ao mesmo tempo, estigmatizando a pusilanimidade dos propugnadores da
hipótese espirítica, por não ousarem afrontar-lhe as objeções mais
importantes."
"Disponho-me, pois, à tarefa ingrata de confutar os argumentos
principais, em sentido antiespirítico, que os dois volumes da obra em
questão contêm, e me lisonjeio de que o prof. Morselli, a quem não
agradam as blandícias, não me ficará querendo mal por isso. No interesse
de tudo aquilo que lhe parecia ser a verdade, ele não hesitou em
manifestar francamente e com vivacidade o seu pensamento, pondo de lado
todo respeito humano, e fêz bem. Valho-me da mesma liberdade. A cada um a
sua tarefa, uma vez que é lei de todo progresso humano que a verdade,
para refulgir, precisa do entrechoque das ideias."
"Longo, entretanto, se mostra o caminho, pelo que entro, sem mais preâmbulos, no assunto."
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"Chegado ao termo das minhas observações críticas,
lanço para trás o olhar e meço o caminho percorrido, a fim de verificar
se a formidável artilharia que o prof. Morselli fêz troar contra os
propugnadores da hipótese espirítica realizou a ameaça de destruição dos
seus acampamentos, que são os por mim explorados. Nada, entretanto,
descubro aí mudado; tudo ao derredor se conserva tranquilo e por toda
parte se percebem indícios do prelúdio de uma avançada em toda linha.
Evidentemente, aquela extensa fila de "bocas de fogo" troou, dando
festivas salvas, como que a anunciar aos povos o advento de uma grande
Ideia, capaz de fundir numa só todas as confissões religiosas e de dar
paz às consciências, com o transformar em certeza científica a fé no
além túmulo."
"E ouso esperar que o prof. Morselli se dignará de me fazer a
justiça de reconhecer que não bati em retirada diante de nenhuma das
suas mais formidáveis objeções, o que, aliás, é dever de todo aquele
cujo objetivo máximo seja, através da Verdade, chegar à Verdade. Se,
pois, entre as objeções de que, por excessivamente inócuas, não cuidei,
alguma haja que assim não pareça ao prof. Morselli, queira ele
benevolamente apontar-ma, e eu a refutarei. E se entre as que tomei em
consideração, de alguma se lembra que lhe pareça insuficientemente
discutida, queira advertir-me que a considerarei de novo, porquanto me
sinto absolutamente seguro de mim, graças, é certo, não ao meu mérito,
mas à qualidade da causa que defendo."
"A facilidade com que ficaram esclarecidas ou explicadas
contradições teóricas aparentemente formidáveis evidencia quão
imprudente é fundar-se uma pessoa em perplexidades de tal natureza, que
não faltam em qualquer ramo de pesquisas, para lançar anátemas "a
priori" contra resultados de fatos, sem refletir que fatos não são
opiniões, nem podem ser suprimidos em virtude de dificuldades teóricas,
que lhes tornam, num ou noutro ponto, obscura a interpretação,
dificuldades que, como o ensina a experiência, se acham destinadas a
resolver-se, mediante o prosseguimento das pesquisas."
"Em outros termos: por si só, a circunstância de existirem essas insurreições teóricas contra uma hipótese fundada em fatos nunca poderá servir de fulcro para se lhe contestar a validez, mas, apenas para justificar, a seu respeito, uma suspensão de juízo. É
nesse sentido que terá de se pronunciar quem quer que entenda não se
deva ainda sancionar a hipótese espirítica. Foi assim que procederam,
diante dela, muitos eminentes homens de ciência, desde William Crookes
até Sidgwick, desde Maxwell até Bottazzi. Assim, entretanto, não
procedeu o prof. Morselli."
Vários anos depois, numa polêmica com o psiquista materialista René Sudre, Bozzano assim se pronunciou:
"Estou preparado para esta discussão, por muitos anos de pesquisas e
estudos metódicos, severos, sistemáticos, de natureza nitidamente
científica e, sobretudo, imparcial, pois durante a mocidade, militei nos
ramos do positivismo materialista, defendendo com vigor, nas revistas
especializadas, as minhas convicções filosóficas de então, o mesmo vigor
que ora demonstro na defesa de uma causa diametralmente oposta, porém
infinitamente mais reconfortante. A lembrança desse passado materialista
me faz hoje ser indulgente e tolerante com todos os antagonistas que, de boa
fé, sustentam ser possível demolir o multiforme e complexo edifício de
provas que conseguimos erigir -- provas de ordem anímica e espirítica -- todas convergentes, como um bloco monolítico, para a demonstração da existência e sobrevivência do espírito humano."
Este
é o título do Capítulo I, Livro II, Segunda Parte, pág. 93, ed. LAKE,
1956, da obra intitulada "A Grande Esperança", do médico, fisiologista e
professor catedrático de Fisiologia da Sorbonne, Prêmio Nobel de
Medicina, Charles Richet, criador da Metapsíquica (hoje Parapsicologia).
Escreve o saudoso mestre:
"Eis um fato assinalado por Duchatel e Warcollier (Les Miracles de la Volonté, Paris, Durville, 1913, págs 89 a 96)."
"A
Srta. B., com 28 anos de idade, órfã. Um irmão morto de tuberculose com
a idade de 8 anos. Ela também está tuberculosa, e tem que se recolher
definitivamente ao leito em abril de 1905. No fim do ano, três médicos
chamados em consultas separadas fazem o mesmo diagnóstico: 1º - perda
absoluta de sensibilidade e de movimento dos membros inferiores; 2º -
inchação extrema do abdome, com muitas dores, tornando impossível a
palpação; 3º - respiração diminuída dos dois lados, estertores do lado
esquerdo e ruídos submaciços; 4º - sensibilidade aguda na região
vertebral e a coluna apresentando uma curvatura convexa a esquerda."
"Estado geral: emagrecimento e fraqueza extrema, perda de apetite,
constipação pertinaz, insônia por lesão da coluna vertebral, tuberculose
pulmonar e peritonial, estado gravíssimo."
"A 28 de janeiro de
1906, o Dr. Levy vai ver essa pobre mulher, concluindo que não há
esperança alguma de cura. Ela está inerte no leito, somente os braços
conservam alguns raros movimentos, e pode ligeiramente virar a cabeça do
lado direito. Mas assim que se lhe levanta o corpo, a cabeça pende
pesadamente. Não se pode sentá-la no leito, a coluna não tem firmeza
alguma. Cada um de seus movimentos provoca uma síncope, o ventre está
muito crescido e as alças intestinais distendidas desenham-se sob a
parede abdominal."
"Em desespero de causa, chamou-se então o Sr. Emile Magnin para
experimentar um tratamento pelo magnetismo. A Srta. B. contou-lhe isto: A
18 de fevereiro, às duas horas da manhã, minha lâmpada apagou-se duas
vezes. Ouvi então uma voz, vinda do quarto vizinho: -- Podes tu suportar
a prova? E eu respondi: -- sim !"
"Então aproximou-se de mim uma fina mão, alongada, segurando uma
flama que iluminou todo o quarto e pude ler estas palavras: -- a 8 de maio tu te levantarás. A visão desapareceu lentamente e, após alguns minutos de obscuridade, a lâmpada se acendeu sozinha" ( ! ).
"Diante disso, o Sr. Magnin, de acordo com os médicos, dá passes
magnéticos que acalmam as dores e trazem um pouco de sono à doente. A 8
de março a doente conta a seu novo médico, Sr. Magnin, que via diante de
si uma linda senhora; depois seu busto se acalma, ela se move e
vira a cabeça, faz esforços para se sentar, ficando perfeitamente ereta,
sentada no leito. O Sr. Magnin então pergunta à linda senhora (que ele não via): -- Se sois vós quem aí estais, tendes poder para fazer a doente andar? A
doente ergue lentamente a perna direita, depois a perna esquerda,
apóia-se contra o leito e faz duas vezes a volta à cama. Pouco a pouco a
expressão muda; há uma verdadeira transfiguração. -- Não creio alterar a verdade, diz o Sr. Magnin, ao dizer que vi uma pálida auréola circundando a cabeça da doente.
Depois, a dois passos do seu leito, o busto se curvou, a cabeça tornou a
pender e as pernas se dobraram. O Sr. Magnin amparou-a em seus braços e
a recolocou no leito."
"A 16 de março dormiu sete horas. Disse que a sua amiguinha
lhe mandara estender as mãos que tocara, tendo ela então sentido uma
força nova. Escreveu depois uma carta, o que não acontecia havia 23
meses."
"Cessaram as hemoptises. Em 15 de maio estava definitivamente curada! Algum tempo depois, casou-se e teve dois filhos."
"Detenhâmo-nos um instante nesta história extravagante. Em primeiro
lugar, ela é autêntica, pois não se pode acusar o Sr. Magnin de
mentiroso. Conheço-o passoalmente e sei que ele é de uma honestidade
escrupulosa e sua sagacidade de observador e de crítico é incontestável.
É preciso, pois, aceitar os fatos tais como ele os relata."
"1º - Uma doente cujos pulmões estão tuberculosos, que tem uma
lesão óssea da coluna vertebral e uma paraplegia devida a uma compressão
medular (mal de Pott -- tuberculose vertebral), curada em 3 meses e
curada completamente; os 4 médicos que a examinaram não hesitaram no
diagnóstico e num prognóstico rapidamente fatal. Ela estava, pois,
absolutamente condenada , e, no estado atual da ciência médica, não
havia dúvida de que jamais se pudesse salvar um doente tão grave."
"2º - A presença (muito hipotética no entanto) da linda senhora
(uma alucinação evidente) teve conexão com a cura. A Srta. B. ouviu-a,
viu sua mão carregando uma luz e sentiu mesmo o seu contato. (Sim, foi
sem dúvida uma alucinação. Mas a palavra alucinação é bem depressa
empregada. É uma alucinação bem singular, pois ela indicou a cura
inacreditável. E, como diz o Sr. Magnin, a descrição que a Srta. B. fêz
da linda senhora parece concordar com uma personalidade, já falecida, da família dele próprio)."
"3º - Que dizer da pálida auréola que o Sr. Magnin viu em redor da
cabeça da doente? Teria sido também uma alucinação do próprio Sr.
Magnin?"
"Se se quisesse, a toda força, encontrar explicações racionais desses fatos estranhos, seríamos forçados a dizer:"
"1º - Que os médicos diagnosticaram mal de Pott, quando era apenas histeria ( ! )"
"2º - Mesmo atacados de mal de Pott e de tuberculose pulmonar, os doentes algumas vezes saram (em 3 meses?)."
"3º - A linda senhora não passa de imaginação da Srta. B.."
"4º - A auréola não passa de alucinação do Sr. Magnin."
"Mas vê-se imediatamente a que ponto essas quatro suposições são
absurdas. Mais vale reconhecer francamente que nada compreendemos."
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Ernesto Bozzano |
Este é o título de mais um trabalho do pensador italiano
Ernesto Bozzano, que o astrônomo Flammarion alcunhou, certa vez, de "o
laborioso analista dos fenômenos psíquicos", versando sobre os fenômenos
paranormais que ocorrem entre os povos selvagens, tal como acontecem
entre os povos civilizados, e que não são frutos de "superstições
indígenas", como imaginam alguns antropólogos e sociólogos, mas
resultado de observações de fatos paranormais autênticos que se
verificam no seio de todos os povos, sejam eles civilizados, bárbaros ou
selvagens, antigos e atuais. O filósofo italiano inicia o seu trabalho
afirmando que "bastará consultar as obras dos mais eminentes
antropólogos, sociólogos e missionários que viveram, longo tempo, entre
os povos selvagens, para verificar que todos esses autores reconhecem,
de comum acordo, que a crença na sobrevivência do espírito humano é
universal."
Bozzano cita o antropólogo E. B. Tylor, o qual observa, em sua obra Primitive Culture
que "a fórmula mínima para definir uma religião consiste na crença de
entidades espirituais, que se encontra no meio das mais atrasadas raças
humanas com as quais temos conseguido entrar em relações íntimas".
Acrescenta que "essas entidades são as almas que sobreviveram à morte do
corpo." E continua: "tal crença é a base fundamental de todas as
religiões, a partir das religiões dos selvagens para chegar às dos povos
civilizados; constitui, aliás, a religião ou filosofia mais antiga e
universal."
O antropólogo Andrew Lang, em seu livro The Making of Religion,
comparou as manifestações que se realizam entre os povos primitivos com
as que se verificam entre entre os civilizados, quer sejam espontâneas,
quer produzidas experimentalmente, e assegura que a melhor prova de
tais fenômenos se encontra na admirável concordância com as descrições
análogas, vindas de diferentes lugares e diferentes épocas. E conclui,
apud Bozzano: "Quando as circunstâncias que nos relatam os exploradores,
assim os antigos como os modernos, instruídos ou ignorantes, místicos e
céticos, concordam em sua modalidade de manifestação, temos o melhor
critério de prova que a Antropologia pode fornecer. E acrescente-se
ainda que, aplicando o método da análise comparada aos diferentes povos,
concluímos que os fenômenos psíquicos são os mesmos por toda parte, e
igual, por toda parte, a crença na sobrevivência por eles firmada. Não
se distancia, ainda, da dos tempos modernos, a crença dos povos antigos
no que tange à gênese de tais fenômenos, ou seja, que são produzidos
pela alma dos que viveram na Terra."
"Esses fenômenos", diz Bozzano, "idênticos, quaisquer que sejam as
épocas e as regiões, vieram reforçar a certeza da sobrevivência do
espírito humano e a possibilidade de comunicação entre os vivos e os
desencarnados."
Grant Allen afirma em sua obra The Evolution of the Idea of God que "a religião contém, em si própria, um elemento infinitamente mais antigo que a própria religião, mais fundamental e persistente que toda a crença em Deus ou nos deuses; isto é, mais antigo mesmo que o uso da propiciação aos deuses e aos espíritos, por meio de oferendas, e este elemento é a crença na sobrevivência dos trespassados. Ora, é nessa crença universal primitiva que se fundaram todas as religiões."
Globet d'Alviella declara em seu livro Hibbert Lecture que "as descobertas desses vinte e cinco últimos anos mostraram, de maneira decisiva, que na época do mamute já o homem praticava os ritos fúnebres, cria na sobrevivência da alma."
Brinton em Religions of Primitive Peoples nos diz que "há religiões, por tal forma rudimentares, que não têm altares, nem templos, nem ritos; mas é impossível encontrar uma só religião rudimentar cuja crença não
repouse na existência de entidades espirituais que se comunicam
com os homens."
Para Huxley, em Lay Sermons and Adresses, "há povos selvagens sem Deus, mas não os há sem a existência dos espíritos."
Para Powers, em Tribes of California, em que trata dos
índios da Califórnia, "estes não têm nenhuma ideia de um Ser Supremo, mas creem na existência dos espíritos, ou seja, nas almas dos homens que habitaram o nosso planeta."
Para César de Vesme, em Histoire du Spiritualisme Expérimental, "a crença na alma, na sobrevivência, nos espíritos, impôs-se ao homem, bom ou mau grado seu, independentemente de seus desejos, pela observação de fatos ocorridos em todos os tempos e lugares, fatos de que iremos nos ocupar -- eis tudo."
Vejamos os capítulos da superdocumentada obra do filósofo italiano,
considerado "o grande mestre da ciência da alma", citando diversos fatos
paranormais ocorridos entre os povos selvagens, narrados por
exploradores e missionários que viveram entre eles:
Cap. 1 - Pancadas e Quedas, Movimento de Objetos a Distância (Telecinésia), Levitação Humana.
Cap. 2 - Transmissão do Pensamento e Telepatia de um Modo Geral.
Cap. 3 - Clarividência no Presente e no Futuro.
Cap. 4 - Fenômenos de Assombramento.
Cap. 5 - Fenômenos de Transporte.
Cap. 6 - Fascinação Hipnótica e Sortilégios.
Cap. 7 - A Prova do Fogo.
Cap. 8 - Feiticeiros-Médicos e seus Sistemas de Cura.
Cap. 9 - Duplo Psíquico, Desdobramento, Bilocação.
Cap. 10 - Sessões Mediúnicas com Telecinésia, Vozes Diretas, Xenoglossia, Materializações e Identificações de Espíritos.
Apêndice - Notáveis Intuições Filosóficas e Científicas entre os Selvagens Africanos.
A título de exemplo, citarei um único fato dos vários que a obra em
apreço contêm, resumindo-o tanto quanto possível, dada a impossibilidade
de reproduzi-lo integralmente, devido à sua extensão. Vejamos:
O fato se passa em 1759, em território norteamericano (antes da
guerra de independência), quando os EUA ainda eram uma colônia inglesa.
O narrador é um aventureiro inglês, Alexandre Henri, que fora feito
prisioneiro pelos índios. Conta ele que um missionário e reverendo
inglês, Sir William Johnson, enviara amistosas mensagens aos índios que o
mantinham cativo, convidando seus chefes, instalados no Salto Santa
Maria, a virem concluir a paz no forte do Niágara. Tratando-se de uma
determinação de alta importância, fizeram os índios solenes preparativos
para evocar e consultar o Espírito de um antigo chefe falecido, a Grande Tartaruga, conhecido na tribo como "aquele que nunca mentia", pela sua retidão de caráter.
Omito os preparativos para a consulta ao Espírito, demasiadamente
extensos (mas que podem ser lidos, "in totum", no livro de Bozzano),
para chegar ao momento em que o sacerdote (médium) anuncia a presença da
Grande Tartaruga, e o seu consentimento em responder às
perguntas. Indagaram, então, se os ingleses estavam preparados para
fazer a guerra ou a paz, e se no forte Niágara havia muitas fardas
vermelhas. Agitou-se a tenda durante alguns minutos e, com um grito
terrível, o sacerdote anunciou que a Grande Tartaruga havia
partido. Foi geral a consternação. Mas, um quarto de hora depois,
voltava ela. Durante sua ausência -- informou o médium -- franqueara o
lago Huron, fora ao forte Niágara e, de lá, a Montreal. No forte Niágara
havia poucos soldados; mas descendo o S. Lourenço até Montreal, notara o
rio guarnecido de embarcações cheias de soldados. O Espírito topara com
eles quando rumavam para combater os índios (naquela época, havia várias tribos indígenas em terras norteamericanas).
O chefe perguntou então se, no caso em que os índios aceitassem o
convite de Sir William Johnson, se este os receberia como amigos. Grande Tartaruga respondeu
que Johnson encheria suas canoas com presentes, tantos quanto elas
pudessem conter, e que cada um voltaria em segurança para a aldeia. A
alegria foi grande. O narrador conservou-se à parte, como simples
espectador.
Realizou-se a expedição dos chefes da tribo ao forte Niágara, e as
suas consequências, referidas na História de Drake, ajustam-se
inteiramente às promessas feitas por "aquele que nunca mentia". Henri
foi bem tratado pelos índios e libertado no final.
Obs. minha: Vali-me de uma edição em espanhol da obra do mestre
italiano. Contudo, existe uma edição em português do livro, sob o título
"Povos Primitivos e Manifestações Paranormais", publicado pela Editora
do Conhecimento.
Respigo os excertos abaixo, sobre a existência ou não de
fraude nos fenômenos mediúnicos, do último trabalho do Prof. Lombroso,
já citado em artigos anteriores, ele que realizou a maior parte das suas
pesquisas (mas não todas) com a famosa médium napolitana
(semianalfabeta) Eusápia Paladino. Vejamos o que diz, a esse respeito, o
sábio psiquiatra e criminologista italiano.
"Chegado a este ponto, receio que o leitor me pergunte -- Não vos tereis deixado enganar pela mais vulgar das velhacarias?
A primeira impressão, de fato (e a mim também não faltou), é de que se
trata de um truque, e é a explicação mais adaptada ao gosto da maioria,
pois evita que se perca tempo em pensar e estudar, e deixa ao homem
vulgar supor-se um observador mais consciencioso e mais hábil do que o
homem de ciência. Realmente, devemos convir que nenhum fenômeno natural,
melhor do que os espiríticos, se presta à dúvida e à fraude, porque os
fatos mais importantes, mais raros, ocorrem sempre às escuras, e nenhum
experimentador pode aceitar por verdadeiros fatos que, desenvolvendo-se
no escuro, não podem ser bem controlados e observados." (Obs. minha:
Lombroso refere-se aqui aos fenômenos de efeitos físicos ou objetivos,
porque os fenômenos de efeitos psicológicos ou subjetivos não necessitam
da escuridade).
"Não falemos dos falsos médiuns, falsários de profissão, que
pululam nos cenários e nos países onde mais difundidas estão as crenças
espiríticas. Existe uma grande literatura, especialmente americana, que
constitui um arsenal típico de que se serviriam tais "médiuns", para os
seus truques: barbas postiças, máscaras, vestes de musselina finíssimas,
substâncias fosforescentes, cadeiras com esconderijo onde o "médium"
oculta as máscaras, quando não com molas que, funcionando, simulam a
levitação."
"É fato que os movimentos medianímicos ocorrem em ambiente escuro,
no mais das vezes na imediata vizinhança do médium, fazendo supor um
artifício; mas o certo é que o elemento fluídico ou ectoplásmico se
reforça na escuridade e sob os véus medianímicos, como o são as cortinas
do gabinete mediúnico, das quais partem, tantas vezes, as
materializações. Assim, pouquíssimos médiuns de efeitos físicos podem
podem operar a plena luz, enquanto os demais não podem. A estas
objeções, que não são sem importância, pode-se responder que ninguém
nega a obra do fotógrafo, embora ele só possa revelar as suas chapas no
escuro, e este exemplo, conforme nota Richet, por analogia, pode ajudar a
compreender como a luz possa impedir ou embaraçar o desenvolvimento dos
fenômenos mediúnicos. Por outro lado, apesar da contradição que
predomina em toda esta matéria, conhecem-se médiuns, a exemplo de Slade e
Home, que puderam operar a plena luz; e em plena luz se desenvolvem os
estranhos fenômenos dos faquires indianos, tão estranhos que só o
relatá-los faz hesitar (ver o capítulo 5). E a médium Eusápia que, em
transe, é refratária à luz, deu lugar, em plena claridade, a uma série
de extraordinários fenômenos, como as modificações do dinamômetro e da
balança, e o movimento de um enorme armário. Tais modificações,
produzidas na balança e no dinamômetro, provam que se puderam aplicar,
com vantagem, a esses fenômenos, os métodos de precisão científica."
"Temos mais ainda: meios de contenção de modo a evitar qualquer
truque foram aplicados em Eusápia, ligando-se-lhe as mãos e os pés com
fitas seladas, ou rodeando-a (Ochorowicz) com uma rede de fios
elétricos, ligados a uma campainha, que soava ao mais leve movimento dos
seus pés. O médium Politi, na Sociedade de Ciências Psíquicas de Milão,
foi encerrado, nu, em um saco de lã. A médium D'Esperance foi metida em
uma rede, qual peixe, e, apesar disso, nesse estado, provocou o
aparecimento do espírito Iolanda, e assim também a médium de Crookes,
Florence Cook. Pode-se ver e fotografar a Srta. Cook junto ao espírito
Katie King (materializado), estando a médium circundada por um fio
elétrico disposto de modo que lhe era impossível fazer agir uma boneca
artificial, sem interromper o circuito. E, assim mesmo, Katie King
falou, escreveu, apertou a mão dos assistentes. O circuito não se
interrompeu, e a médium sempre se manteve em estado de adormecimento
profundo. Fizeram-se experimentos físicos com a seriedade e a
importância das pesquisas realizadas com instrumentos de precisão, e que
foram controlados com a fotografia. Tem-se abusado da fotografia
espírita e dela feito objeto de fraude; qualquer suspeita, porém,
desaparece quando se trata de fotografias executadas diante de uma
comissão especial de peritos, e de homens de renome indiscutível como
Crookes, Wallace, Zöllner, Aksakof, Gibier, Richet, Myers, Lodge, Finzi,
Volpi, Falcomer, Carreras, etc.. Acrescente-se que, com frequência,
falta a capacidade para delinquir, quando, por exemplo, o médium é uma
criança."
"Os prestidigitadores -- diz Brofferio -- não têm imitado até agora
os fenômenos espiríticos de modo a enganar, salvo quando obtêm
condições, a principal é que com eles não se tenham todas as exigências,
nem se tomem todas as precauções que se têm tomado e se tomam com os
médiuns. O prestímano executa o seu número, mas o número que ele
preparou; é inútil pedir que faça outro, que o modifique ou que o
repita, uma vez executado. Ao revés, os fenômenos que se obtêm com o
médium são quase sempre os que se lhe pedem, ainda que não o sejam
sempre, porque a inteligência oculta que os produz também possui vontade
própria."
"A Comissão da Sociedade Dialética de Londres chegou até a querer
que, durante os experimentos, fossem os médiuns vigiados -- nem mais,
nem menos -- do que por dois dos melhores prestidigitadores daquela
capital. A opinião de que os fenômenos espiríticos são imitáveis está
muito difundida entre o público, mas não é esta a opinião dos
prestímanos Jacob, do Teatro Robert Houdin, de Paris, e Bellacchini,
prestidigitador da Corte de Berlim, que fizeram ao médium Slade
declarações de que nenhuma das suas artes pode produzir os fenômenos que
ele, Slade, realiza. Trollope, citado por Russel Wallace, conta que
Bosco, um dos mais peritos prestímanos que já existiram, achava graça da
crença de que os fenômenos produzidos por Home se pudessem atribuir aos
recursos de sua arte."
"Uma causa dos pretensos desmascaramentos dos médiuns é a prevenção
de que os fenômenos não devem ser verdadeiros. Há ilusões ocasionadas
pela credulidade, mas também existem as produzidas pela incredulidade.
Os incrédulos se põem num estado de atenção expectante, pelo qual
creem ver o que não é; se não o veem, adivinham; eles tudo compreendem,
tudo explicam. Tem tal medo de ser burlados, que se burlam a si mesmos,
e, para evitar o inverossímil, inventam o impossível."
"E as mesmas causas dão origem aos processos contra os médiuns. O
processo contra Slade foi feito no interesse da ciência, e a condenação
se fundava sobre motivos extraídos do notório curso da natureza. Assim,
conforme texto do próprio tribunal, a sentença deriva do seguinte
preconceito: o curso conhecido da natureza exclui a possibilidade dos
fenômenos mediúnicos; ora, o impossível não se pode fazer, mas apenas
fingir; logo, todos os médiuns são impostores. Daí resulta,
para eles, que os espiritistas, por crerem na possibilidade das coisas
impossíveis, são imbecis. Por isso, não são jamais chamados como
peritos, conquanto sejam os únicos peritos e os únicos competentes, pelo
tempo que consagraram ao tema, e, quando ouvidos como testemunhas, não
acreditam neles."
"Enfim, às imitações feitas por médiuns impostores, por
prestidigitadores e céticos, os espiritistas respondem, com Hellenbach,
que as perucas não provam a inexistência do cabelo, as dentaduras
postiças que não haja dentes, e, assim, as moedas falsas, as flores de
papel, etc.."
"Tendo eu visto fatos reais, é inútil que Tyndall me venha dizer
que há muitos falsos. Sei que o café também se fabrica com chicórea,
bolota de carvalho e figos secos. Sei disso porque um dos meus
conhecidos é fabricante de café, e me assegurou que não é suficiente
garantia nem mesmo comprá-lo em grão, pois o fabricam com resíduos de
café, e, tão bem, que eu não o distinguiria do verdadeiro. Como,
entretanto, já bebi o puro e legítimo café, estou, quanto a este,
naquele estado de ânimo a que se refere Tyndall: estou afetado de uma
credulidade incurável. Nem um bloqueio continental, que me privasse do
café pelo resto da vida, curar-me-ia da ilusão de que existe o café
autêntico. É verdade que um desencarnado difere muito de uma xícara de
café, mas a diferença consiste nisto: todos os que vão a Nápoles, vão ao Caffé Nuovo, mas ninguém vai procurar Eusápia."
A propósito de Eusápia, diz o grande fisiologista, prof. Richet:
"Eusápia em nada se assemelhava a um prestidigitador de profissão. Não tinha nem varinha, nem mesa, nem cofrezinho, nem espelho, nem cúmplice. Ela chegava para as sessões vestida com uma pequena roupa de seda preta colante. Podia-se verificar que não ocultava nada sob as vestes."
Obs. minha: em geral, quando se trata de fenômenos mediúnicos de ordem física (psicocinésia ou telecinésia, levitação, materializações parciais ou completas), emprega-se luz vermelha que, sendo de um comprimento de onda mais longo, não prejudica ou prejudica menos o elemento ectoplásmico atuante nesses fenômenos, permitindo, além disso, aos experimentadores, um bom controle do médium e do ambiente em geral; não obstante, como diz acima o prof. Lombroso, há médiuns de efeitos físicos que puderam operar a plena luz.
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Carlos Imbassahy |
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Gustavo Geley |
O que normalmente se denomina mágica ou prestidigitação só pode ocorrer caso existam duas condições:
1ª) Ambiente pré-arranjado e pré-preparado.
Os assistentes devem permanecer a distância, observando passivamente,
sem poder examinar detidamente o ambiente e os objetos (pisos com
alçapões, espelhos, mesas, cadeiras, cofres e caixas com fundo falso,
etc.) de que o mágico se vale para as suas práticas de ilusionismo.
2ª)
Existência de compadrio, isto é, cumplicidade de assistentes (mulheres ou homens) para auxiliar o mágico em seus truques de prestidigitação.
É certo que na ausência dessas duas condições (e os próprios mágicos o
reconhecem), torna-se impossível para um prestidigitador operar os seus
truques.
Ora, comparar os fenômenos mediúnicos estudados por homens de ciência e pesquisadores, em suas próprias residências ou em seus laboratórios
(onde não existe ambiente preparado), em que os assistentes são pessoas
íntegras, responsáveis, interessadas na observação dos fenômenos e em
descobrir, a todo custo, a possível ocorrência de fraude (inexistência,
portanto, de compadrio), com o médium sob rigorosa fiscalização, antes e
durante a sessão, com o auxílio dos mais variados meios de controle,
comparar os fenômenos mediúnicos, dizia eu, verificados nessas condições, com truques de prestidigitação, parece um absurdo desmedido.
Para comprová-lo, citarei um fato narrado pelo
escritor Carlos Imbassahy em seu livro "O Espiritismo à Luz dos Fatos"
(5ª ed., Feb, 1998, pág. 48). Tentarei resumi-lo:
O prestidigitador Dickson afirmou, em carta ao jornal francês Le Matin,
que seria capaz de reproduzir os fenômenos obtidos, no Instituto
Metapsíquico Internacional (IMI),
com o médium Jean Guzik, e
confirmados num relatório assinado por 34 pessoas, entre
cientistas, filósofos, pesquisadores e intelectuais em geral, sob as
mais rigorosas condições de controle, garantindo sua autenticidade.
Queria receber 10.000 francos do Instituto, após o cumprimento da sua
promessa. Em resposta, o diretor do IMI, Dr. Gustavo Geley, escreveu ao Le Matin,
concordando com o repto. Propôs que fossem entregues, nas mãos do
Redator-Chefe do jornal, 20.000 francos, 10.000 do ilusionista e 10.000
do IMI. Se Dickson conseguisse reproduzir os fenômenos de Guzik, sob as mesmas condições de controle daquele,
retiraria 20.000 francos; se não, o IMI retiraria os seus 10.000 e os
outros 10.000 o jornal doaria aos laboratórios de pesquisa científica
francesa. Eis o final da missiva do Dr. Geley ao Le Matin:
"O prestidigitador será submetido exatamente à mesma
fiscalização que o nosso médium. Ele virá ao IMI, será despido e
examinado por dois dos signatários do relatório, revestido de um pijama
sem bolsos, fornecido por nós. Só nesse momento entrará na sala das
sessões; será seguro pelas mãos; seus pulsos serão presos aos pulsos de
dois fiscalizadores por uma fita curta, duplamente selada; seus pés e
pernas serão imobilizados. Como nas sessões do IMI, serão os assistentes
ligados uns aos outros por cadeados e argolas que os prenderão, mão a
mão, em torno de uma mesa; todas as portas e aberturas serão fechadas,
antes de começar a sessão, e seladas por uma fita de papelão grosso, em
que serão apostas as assinaturas dos presentes."
"Nessas condições, o prestidigitador deverá reproduzir os fenõmenos
de Guzik: -- deslocamentos amplos de uma cadeira ou mesa colocados a
1,50 metros atrás de si; toques feitos na cabeça e nas costas dos
fiscalizadores; fenômenos luminosos a distância."
"Diz o adágio jurídico que pertence ao acusador o ônus da prova. O
Sr. Dickson, em nome da prestidigitação, acusa; nós lhe oferecemos, a ele ou a qualquer outro prestidigitador, provar o fundamento da acusação."
"Receba, Sr. Redator-Chefe, etc.."
"Gustavo Geley (Diretor do IMI)."
Conclusão do caso: o Dickson não apareceu no IMI, como também, aliás, nenhum outro prestidigitador. A abstenção foi completa.
O mesmo Dr. Geley, em seu livro "Resumo da Doutrina Espírita", nos assegura: "Ninguém tem o direito de combater, sem prévia contra-experimentação, as conclusões experimentais dos Aksakof, Butlerov, Robert Hare, Hodgson, Hyslop, Dale Owen, Epes Sargent, Crookes, Varley, Russel Wallace, Sigdwick, Gurney, Myers, Oliver Lodge, William Barrett, Crawford, Erny, Flammarion, Gibier, Richet, De Vesme, De Rochas, Osty, Zöllner, Barão du Prel, Barão von Notzing, Ochorowicz, Flournoy, Lombroso, Bozzano, Morselli, Bottazzi, e tantos outros não menos ilustres" (além, acrescento eu, das centenas e milhares de pessoas, no mundo inteiro, menos ilustres, é certo, que os citados, mas possuidoras de discernimento e espírito de observação, que também comprovaram a realidade dos fenômenos).
Para ilustrar melhor o tema, recorro a um notável texto do astrônomo Camille Flammarion, no seu livro "As Casas Mal-Assombradas", adaptando-o aos dias de hoje (2016), sobre um juiz que, ao ajuizar sobre um crime, prolatasse a sua sentença nos seguintes termos: "Considerando que duas pessoas, em pleno gozo de suas faculdades mentais, viram o réu cometer o crime, mas considerando que sete bilhões e quatrocentos e poucos milhões de pessoas (a população atual do planeta) nada viram, dou por absolvido o réu".
Deixo que cada um extraia as suas próprias conclusões.

Uma das grandes glórias do Espiritismo foi ter trazido
para os seus arraiais um dos seus mais furibundos críticos, tangido,
como ele próprio disse, pela força irresistível dos fatos -- o genial
médico, professor, antropólogo, psiquiatra e criminologista italiano, César
Lombroso. Segundo um dos seus biógrafos (Henrique Ferri), foi um homem
polifacético. Sua extensa obra abarca temas médicos ( Tratado
Profilático e Clínico da Pelagra, Os Venenos Químicos, Memória sobre as
Feridas e Amputações por Armas de Guerra), psiquiáticos (Avanços da
Psiquiatria, Doenças Mentais e Antropologia), psicológicos (A Loucura de
Cardano, O Homem de Gênio, Gênio e Degeneração), demográficos
(Geografia Médica), antropológicos (O Homem Branco e o Homem de Cor, O
Antissemitismo e a Ciência Moderna), políticos (O Delito Político e a
Revolução), criminológicos (O Homem Delinquente, O Crime: Causas e
Remédios, A Mulher Criminosa, etc.), para só citar algumas.
Sobre a sua última obra "Pesquisas sobre os Fenômenos do Hipnotismo
e do Espiritismo", assim se pronunciou o Prof. A. Marzorati, um dos
seus companheiros nos experimentos que empreendeu sobre os fenômenos
mediúnicos ou paranormais:
É um trabalho de descoberta, uma obra prima de erudição e
sinceridade, um monumento de síntese que ficará como o testamento
científico não só de quem o escreveu, mas de toda uma época que,
partindo da negação, passou, de descoberta em descoberta, a experimentar
toda a embriaguês do vir a ser, e que, na pesquisa inquieta e afanosa
da matéria, tocou o umbral do mundo olvidado e pressentiu as misteriosas
potências do Espírito.
Vejamos o que diz o sábio antropólogo italiano sobre o tema que encima esse texto:
"Foi somente depois de ter verificado os fatos das casas assombradas, e
de observar Eusápia Paladino (a médium), em estado de transe, dar
respostas com clareza e de modo bastante inteligente, em línguas que,
como o inglês, desconhecia inteiramente, conseguindo até modelar
baixos-relevos que nenhuma pessoa em condições normais poderia fazer,
ainda mais sem nenhuma instrução, como era ela, -- foi somente depois de
tudo isto e após tomar conhecimento dos experimentos de Sir William
Crookes com os médiuns Home e Florence Cook, de Richet, de Aksakof, de
Wallace, de Flammarion e outros, que me vi, também eu, compelido a crer
que os fenômenos espiríticos, se bem sejam devidos em grande parte à
influência do médium, igualmente devem ser atribuídos à influência de
seres desencarnados, que possamos talvez comparar à radioatividade
persistente nos tubos, depois que o elemento químico radium, ao qual ela
deve sua origem, haja desaparecido." ( - )
"De resto, como as leis relativas às ondas de rádio
explicam, em grande parte, a telepatia, assim também as novas
descobertas sobre as propriedades radioativas de alguns metais,
especialmente o radium -- demonstrando-nos que aí pode haver, não apenas
breves manifestações, mas um contínuo, enorme desenvolvimento de
energia, de luz e calor, sem perda aparente de matéria -- invalidam a
maior objeção que os cientistas podem opor às misteriosas manifestações
espiríticas." ( - )
RADIOATIVIDADE
"Recordemos aqui
os muitos indícios de um estado radiante dos médiuns em presença dos
supostos "espíritos": a descarga do eletroscópio conseguida por Eusápia,
tendo as mãos suspensas a 10 centímetros (o que é um fenômeno
radioativo); a impressão dos quatro dedos que ela deixou em uma chapa
fotográfica envolta em três papeis opacos; as névoas fosforescentes
flutuando sobre sua cabeça e sobre a mesa em frente à qual estava
sentada, em transe, e as nos dois médiuns, em transe, nos experimentos
de Richet; as fosforescências no abdomem da médium D'Esperance ao se
formarem os fantasmas; as faixas e globos luminosos nas sessões de
Politi, de Eusápia, de Randone. O caso de Stasia, rigorosamente estudado
por Ochorowicz, cujo corpo fantasmático consta de globos luminosos e
pode provocar clarões ao seu redor, e o fato da reprodução, na
escuridade, dos fantasmas obtidos pelo Conde de Boullet e Reiners com o
médium Firman." ( - )
"Num experimento realizado em Turim, pelos Drs. C. Foá e A.
Herlitzka, com a médium Eusápia, uma chapa fotográfica, envolta em três
folhas de papel opaco, foi colocada acima da cabeça da médium, diante da
cortina negra da câmara mediúnica, e foi impressionada por uma grande
mão, que não pertencia a nenhum dos dois cientistas, e menos à médium,
reproduzindo quatro dedos enormes, o que demonstra haver nas sessões
vontades enérgicas, contrárias à da médium e à dos presentes.
Evidentemente, trata-se de um fenômeno de radioatividade e não de
luminosidade, porque a impressão da chapa foi feita através de
obstáculos opacos."
"Com estes experimentos, se não erro, nos avizinhamos mais
intimamente dos fenômenos, melhor direi, do organismo assim chamado -
espirítico - aqueles representantes transitórios, evanescentes, do Além,
dos quais não se quer admitir a existência por preconceito científico,
não obstante a tradição universal renovada por milhares de fatos que
continuamente repululam sob nossos olhos. E se descobre que estes corpos
parece pertencerem àquele outro estado da matéria, ao estado radiante,
que agora pôs seu pé firme na ciência, oferecendo assim a única hipótese
que pode conciliar a crença antiga, universal, da persistência de algum
fenômeno de vida depois da morte, com os postulados da ciência, segundo
os quais - não há desenvolvimento de energia sem perda de matéria - e
isso se concilia, sob nossos olhos, nos experimentos espiríticos."
"Com efeito, salvo os casos de Katie King, em Londres, e de
Eleonora, em Barcelona, nos quais esses seres espiríticos ficaram em
nosso meio, nas sessões, por dias e anos, destes fantasmas só em alguns
casos vemos o corpo completo, materializado, e mais frequentemente vemos
alguns membros, a mão, um braço, etc., que saem da cortina da câmara
mediúnica, e têm a tendência instintiva de regresso à câmara, depois do
seu volitejar."
"E palpando-os, rara vez e por pouquíssimo tempo, nós verificamos o
estado sólido, porém mais frequentemente sentimos partir da cortina um
corpo fluídico que se infla e se desvanece sob a nossa pressão, sem que
por isso possamos declarar não existentes, e sim, exatamente por isso,
que é formado de alguma substância que foge ao nosso tato, porque mais
fluida, mais sutil do que alguns daqueles gases cuja existência negamos e
talvez ainda negaríamos se a Química não os tivesse confirmado."
"Evidentemente, porém, esses seres ou remanescentes de seres não
teriam um meio de adquirir completa consistência, de incorporar-se (ou
materializar-se), se não tomassem por momentâneo empréstimo uma parte da
substância do médium, que está naquele instante, geralmente,
profundamente adormecido, perdendo transitoriamente parte do próprio
peso (ver cap. seguinte) e também, parece, do próprio volume corporal
(ver o livro de Aksakof, Um Caso de Desmaterialização). Mas o
tomar emprestado a força e a substância do médium não quer dizer
identificar-se com ele. Tudo, pois, conduz à hipótese de que a Alma
resulta da matéria radiante, provavelmente imortal, ao menos resistente a
muitos séculos, e que se centuplica de energias para atingir a dos
vivos, assimilando uma parte da substância orgânica, ou ectoplasma (no
dizer do prof. Richet), que os médiuns liberam, com exuberância, durante o
transe. E com isto se explicaria a grande potência desses médiuns."

A Metapsíquica, de Charles Richet, baseia-se em
sua pioneira e grande obra "Tratado de Metapsíquica" (LAKE Editora,
2008), publicada originalmente em 1922. Vejamos:
Metapsíquica é a ciência que tem por objeto os fenômenos físicos ou psicológicos que se poderiam chamar de inabituais,
fenômenos esses devido a forças que parecem inteligentes ou a
faculdades desconhecidas da mente. Assim, diremos que um fenômeno é metapsíquico
quando ele não é explicado pelos fatos conhecidos, classificados,
clássicos, quer da Psicologia, quer da Fisiologia, quer da
Físico-Química habituais. A Metapsíquica pode ser dividida em Subjetiva (ou Mental) e Objetiva (ou Física).
A Metapsíquica Subjetiva é o estudo dos fenômenos
inabituais de natureza puramente psicológica, isto é, no qual não
intervém nenhum fator, mecânico ou material, que seja inabitual (por
exemplo, a leitura, por um sensitivo, de uma carta fechada dentro de um
invólucro opaco). Pode-se resumir toda a Metapsíquica Subjetiva na
seguinte proposição: há, para o conhecimento da realidade, outras vias além das vias sensoriais comuns.
Por outras palavras, a inteligência pode conhecer um fragmento da
realidade quando, nem a vista, nem o ouvido, nem o tato, lhe puderam
revelar. Em geral, essa realidade se apresenta sob uma forma simbólica,
como uma projeção alucinatória visual ou auditiva (é o que os autores
ingleses chamam de "alucinação verídica").
Admitamos então que há, nas coisas, vibrações imperceptíveis para a
maior parte dos homens, mas que, em certos indivíduos, chamados
sensitivos, põem em jogo o conhecimento. Chamaremos de criptestesia,
isto é, sensibilidade oculta, à faculdade que alguns sensitivos possuem
de perceber, por vezes, inabitualmente, noções (vibrações) impossíveis
de adquirir por nossos sentidos normais. Premonição (ou precognição) é o conhecimento, pelo sensitivo, de eventos futuros.
Teoria da Criptestesia -- Há, em torno de nós, vibrações ou
ondas eletromagnéticas que não percebemos através do nossos sentidos,
mas que não deixam de existir por isso (ondas de rádio, TV, radar,
microondas, etc.). Por consequência, é possível que das coisas que estão
em torno de nós, ainda que minúsculas, sejam emitidas vibrações. Essas
vibrações, não as percebemos, porque não somos sensitivos. Mas desde que
um indivíduo, dotado dessa sensibilidade particular que chamo criptestesia, esteja presente, perceberá essas vibrações, ainda que elas sejam nulas para o comum dos homens.
Bastar-me-á, pois, fazer estas duas suposições, ousadas talvez, mas
que os experimentos rigorosos tornam quase necessários: 1ª - Que as
coisas e os movimentos provocam certas vibrações; 2ª - Que essas
vibrações podem ser percebidas por seres especialmente sensíveis. Assim,
posto que grande quantidade de fatos novos fiquem ainda difíceis de
estabelecer, teremos dado um caráter científico ao fenômeno,
aparentemente
maravilhoso, da criptestesia. (Obs. minha: o que Richet chama criptestesia engloba o que outros autores chamam de telepatia, isto é, transmissão de pensamentos, sem o auxílio dos sentidos, a pequenas ou grandes distâncias, e clarividência, ou seja, visão, sem o auxílio dos olhos, através de objetos opacos, a pequenas ou grandes distâncias).
A Metapsíquica Objetiva é o estudo dos
fenômenos mecánicos ou materiais, inexplicáveis pela Fisiologia e pela
Físico-Química habituais -- movimentos de objetos sem contato, luzes,
pancadas nas mesas sem contato, formas de aparência viva percebidas por
diversas pessoas e fotografáveis, ruídos violentos ouvidos à distância,
etc.. Chamamos de telecinésia o deslocamento de objetos à distância, sem contato, e raps
as pancadas ou ruídos produzidos nesses objetos. É possível provar que o
movimento de tais objetos é devido a formações adventícias, por vezes
invisíveis, de membros e de mãos aptos a movê-los. Denominamos ectoplasmas
a essas formações transitórias que, desprendendo-se do corpo dos
sensitivos produtores de efeitos físicos, têm todas as aparências da
vida, e desaparecem depois de passageira manifestação. Doravante, empregarei o termo ectoplasmia para designar todos os fenômenos onde ocorrem materializações de formas vivas, de objetos, de figuras, de personagens.
Além da telecinésia e da ectoplasmia, é necessário acrescentar, à Metapsíquica Objetiva, um terceiro grupo de fenômenos -- o das chamadas casas assombradas; entretanto, salvo algumas exceções, trata-se de histórias recheadas de incertezas e fantasias.
A Parapsicologia, de René Sudre, é baseada em seu livro "Tratado de Parapsicologia" (Zahar Editores, 1976), publicado em 1956. Vejamos:
Parapsicologia
é a ciência que tem por objeto os fenômenos físicos ou psicológicos
devidos a forças que parecem inteligentes ou a faculdades desconhecidas
da mente. Ratificaremos a divisão geral em fenômenos mentais (ou
psicológicos), e fenômenos físicos, ou seja, distinguiremos uma Parapsicologia Mental e uma Parapsicologia Física.
A Parapsicologia Mental compreenderá os dois grandes grupos da telepatia e da metagnomia (clarividência), incluindo a metagnomia pré-cognitiva (fenômenos em que ocorre a antevisão do futuro). Acrescentaremos um terceiro grupo, o da prosopopese, que se relaciona aos conhecidos em Psicopatologia sob o nome de "divisão da personalidade". Reunimos, pois, sob o nome de prosopopese, todos
os fenômenos em que aparecem personalidades psicológicas novas --
escrita e palavra automáticas, encarnação, possessão,etc.. (Obs. minha: a
Parapsicologia mais recente, devida a J. B. Rhine, engloba os dois
primeiros grupos sob a denominação de ESP - Extrasensory Perception, em
inglês, ou PES - Percepção Extra-Sensorial, em português).
No que concerne aos fenômenos físicos, admitiremos,
como hipótese de trabalho, que são devidos a uma substância oriunda do
corpo vivo e sob a dependência da mente. Aproximaremos, assim, os fatos
do chamado "magnetismo animal" dos fatos de materializações.
Distinguiremos, contudo, os fenômenos de telergia, isto é, os efeitos mecânicos, físicos, químicos, da força psíquica, dos fenômenos de teleplastia, nos quais a força psíquica modela formas animadas que dão a ilusão
da vida. (Obs. minha: esta última palavra, sublinhada por mim,
mostra-se em desacordo com os experimentos de Crookes, Richet, Aksakof,
Lombroso, Geley, Bozzano e outros). Assim, telergia é a objetivação de forças, teleplastia é a objetivação de formas.
A telergia ainda pode ser subdividida em: telecinésia -- deslocamento de objetos sem contato, e hiloclastia
-- fenômenos em que ocorre a penetração da matéria através da própria
matéria. (Obs. minha: a Parapsicologia mais recente emprega o vocábulo psicocinésia, ao invés de telecinésia).
Por sua vez, a teleplastia pode ser subdividida em espontânea (aparições), experimental (materializações), toribismo (fenômenos de "poltergeist") e assombrações. (Obs. minha: "Poltergeist" é um vocábulo alemão que significa "espírito barulhento" ou "perturbador"; tais fenômenos ocorrem, geralmente, em casas tidas como assombradas).
O paciente, que os espíritas denominam impropriamente médium,
é um ser vivo, homem ou animal, que produz ou ajuda a produzir
fenômenos parapsicológicos. Os pacientes que produzem mais
particularmente fenômenos mentais são os metagnomos; os que produzem mais particularmente fenômenos físicos são os teleplastas.
Obs.
minha: creio ser ocioso salientar que os dois autores citados neste
artigo são materialistas e antiespíritas, sendo o primeiro -- Charles
Richet -- um antiespírita moderado, e o segundo -- René Sudre -- um
antiespírita extremado.